por Warney Smith Silva
Vim para Campinas em 1986 para trabalhar na Unicamp. Tinha 24 anos e, como a maioria, aluguei uma pensão/ quarto bem próximo da antiga rodoviária. Nos dias comuns, pegava o CCTC amarelo e vermelho para o “campus”. E nos finais de semana, ia passear por Campinas. Era para mim uma cidade gigantesca e assustadora como São Paulo e Rio de Janeiro. Mas em pouco tempo, comecei a ser convidado e a curtir festas de estudantes em Barão Geraldo e, rapidamente, fiz muitas amizades e namorei moças inesquecíveis, como a Aline, da Vila São João. Numa dessas festas, conheci um cara que trabalhava como câmera da TV Campinas (atual EPTV) que estava saindo de lá e me indicou para trabalhar. Antes de vir para cá, eu tinha o sonho (pelo qual batalhei por décadas) de trabalhar em TV ou rádio. Fui la e fui aceito. Sem conhecimento de leis , sem perspectivas e sem saber adivinhar o futuro, e com um salario que era o dobro da Unicamp, aceitei. Por causa disso, aluguei um ap no Jd São Gabriel com a então amiga Cris.
Antes disso, fui ao Correio Popular pedir emprego ao diretor Paulo Scolfaro que me exigiu o diploma de jornalismo (naquela época era obrigatório, embora eu ja tivesse o registro profissional) e assim prestei o vestibular para a Puccamp onde passei em 14º lugar e depois ainda consegui o crédito educativo. O curso logo no começo foi fantástico sobretudo pelas aulas de Teoria da Comunicação de Zelinda Gervásio e Filosofia de Germano (atual reitor e que não me reconhece mais e me despreza) e como sempre, tirando notas 10. E sempre passeando e conhecendo os bares de Campinas, conheci o “SubSede” onde conheci muita gente famosa e poderosa anos depois (como Marcelo Rubens Paiva, Luciano Zica, Fernando Bittar e muitos outros). Ideologicamente eu defendia o ambientalismo de Gabeira e Minc e queria fundar o PV em Campinas. Acreditava que tanto o capitalismo como o socialismo ja estavam ultrapassados. Mas o PV em Campinas ja tinha dono e não me aceitou.
Mas 18 meses depois meu chefe fascista (fascista mesmo. Não essa estupidez antidemocratica que inventaram hoje) me mandou andar. Fui ao Correio e nada…. Consegui estágio na Portal Publicidade onde fui muito feliz por pouco mais de 12 meses… Em 1988 consegui um estagio na ASSUC (que originou o Sindicato da Unicamp) onde comecei a aprender como fazer assessoria e comunicação de sindicatos e trabalhei com Edson Lins que hoje também me despreza e deve falar muito mal… Foi aí que vim em definitivo para Barão. (ano da 1ª festa do “Boi Falô” cuja lenda já conhecia). Fiz cursos na CUT e cada vez mais forte contato com o movimento estudantil, ja dormia na Taba às vezes e conheci os estudantes do DCE. Um deles, Fernando Bittar, era diretor do DCE e filho de Jaco Bittar, candidato a prefeito. Fernando me convidou a ser ambientalista no PT (ala que ainda estava em formação) e aceitei. Em 1988, depois da ASSUC (sem nenhum apoio ou ajuda de Edson Lins ou de meus “coleguinhas” do PT – Miguel Leonel e outros) comecei a trabalhar em vários SIndicatos e através da CUT em oposições. Fiz campanha para Jacó Bittar e o 1º vestibular para Filosofia na Unicamp. E em 1989 passei no vestibular e fui morar na TABA porém ainda estava na PUC, vivia viajando e longe de Campinas. E em dezembro – por indicação do futuro alpinista Vitor Negrete (coordenador do DCE) – me mudei para a Moradia da Unicamp ainda em construção.
Porém não consegui nenhuma indicação profissional ou emprego de jornalista que preste (nem na prefeitura, apesar de tanto trabalhar na campanha junto com Celso Marcondes). Busquei, lutei e tentei muito por inúmeras vagas como jornalista principalmente em grandes jornais (Estadão, Folha, Diário, Correio… nada… tenho tudo guardado para provar) e me formei em 1990. Tentei fazer o curso de Filosofia mas não gostava porque era teórico demais e eu na época era “militante”… Até que em 1992, ainda petista, criei – junto com a artista SIlvana Fonseca – o JORNAL DE BARÃO para sobreviver e alugamos uma casa na Ângelo Vicentin 622, paga pelo jornal. Também em 1992 tentei novo vestibular para História na Unicamp e passei na 2ª opção, Ciências Sociais, que conclui em 1996. E o jornal se manteve ate 1993 graças à capacidade de vendas de Silvana que eu nunca tive. Como já existia o Jornal Integração, praticamente só comercial, o Jornal de Barão ia mal e porcamente. Nessa época sofri muitas perseguições e traições de “coleguinhas” do PT (como Willian, Jaime, Marcelo “caixa d´agua”, Uchoa e diversos outros – Principalmente diretores da ASSUC – inicio do STU) e por isso abandonei o PT em 1992. Esse sofrimento foi extremamente forte porque conseguiram destruir meu relacionamento com Silvana, e depois que consegui trabalhar – muito bem – no Centro Cultural Victoria, o presidente Gerardo foi pedir à dona do Victoria, para me mandar embora….
Sob o signo do “não”
Foi em 1992 quando fui no Centro de Memória pesquisar sobre Barão Geraldo (e nada encontrei) que comecei minha pesquisa, por proposta e convite do próprio professor João Roberto do Amaral Lapa. Talvez tenha sido a fase mais feliz de minha vida. Conhecer e entrevistar idosos, buscar conhecer muito a fundo Barão Geraldo conheci inúmeras pessoas inclusive o prefeito Magalhaes Teixeira (nunca o procurei para pedir emprego por ética e desconhecimento do que era a Modernidade: a sociedade da ética do cada um por si e todos contra todos.) Mas não consegui nenhuma boa oportunidade. Em 1994 fui obrigado a voltar sozinho para a Moradia da Unicamp mesmo sem ser selecionado. Mas em 1995, após entregar minha monografia, decidi lutar pelo Mestrado. Sem orientação, os projetos eram péssimos… Melhorei depois mas em 1997 consegui o convite do professor John Monteiro para pesquisar a Historia Indigena do Nordeste que durou até 1999. Nesse ano, uma assessora da professora Olga vom Simson pediu todo meu material de pesquisa sobre Barão (fitas gravadas e transcritas em word, fotos catalogadas e todos os textos) Tudo bem organizado e declarado.(e tenho toda a relação pormenorizada comigo. Muita coisa desapareceu la…).
Além disso, tentei entrar em varios mestrados sobretudo sobre Barão é claro. E devido à minha sempre muito forte carência afetiva, decidi me casar com uma amiga “anarquista” da UNESP. O “casamento” durou 1 ano. Fui traído varias vezes e tive de abandonar. Em 1998 entrei novamente em História na Unicamp mas fui “expulso” (convidado a me retirar) da Moradia em 2000. O jeito foi me transferir para a USP e consegui em 2001. Antes ainda fiz um estagio voluntário no Arquivo do Centro de Memoria e consegui a indicação para um curso na USP.
Nova vida, na USP e São Paulo
Na USP fiz a Pós , especialização em Organização de Arquivos e lutei muito para me estabelecer como arquivista. E tentei continuar meu projeto sobre Barão. Em 2003 além de parar de fumar e conseguir um novo amor, fui convidado a entrar no Mestrado para desenvolver um projeto do professor Gildo Magalhães. que depois fui obrigado a abandonar. Também consegui passar em “concursos” (processos seletivos CLT) para jornalista da USP, mas novamente fui traído por um diretor que “não foi com a minha cara”. Logo na minha contratação esse professor Wilson me disse que eu não tinha competência e 4 meses depois – ja efetivado – me despediu. O jeito foi ir à Justiça num processo que durou 15 anos… Ainda fazendo Historia na USP , tentando concursos e lutando, minha filha nasceu em 2007 e por isso decidi ficar com ela por pelo menos 1 ano (que duraram 3) quando me formei em Historia. E ai montei uma empresa de vídeos para tentar sobreviver. Por causa disso, em 2011 fui chamado para trabalhar para a Prefeitura de Embu das Artes. Mas com prefeito e chefes petistas, novamente sofri muita perseguição, assédio moral, acusações violentas, mentiras e muita grosseria. (apesar de um belíssimo trabalho com a Cultura Popular de Embu das Artes que acredito ter apoiado e fortalecido muito). Tentei fazer parte de um grupo de Jongo de Embu, mas não deixaram…. Em 2013 fui demitido e logo depois sofri um violento assalto que levaram várias câmeras, notebooks e equipamentos. E meses depois, minha mulher se despediu de mim.
Sob o signo do não (2)….
Sem condições e com uma proposta de Renato Cesar Pereira de fazer um jornal em Barão em 2014, me mudei para a casa de meu irmão em 2013. Começamos em 2014 porém Renato desistiu do projeto. Em 2014 procurei o Centro de Memoria para retomar o projeto de Historia de Barão para publicar. E assim, Fernando Abraão me devolveu os meus arquivos que estavam lá. (Além de abandonados, bastante depauperados, e várias fitas e fotos desaparecidas…) Em 2014 procurei o IFCH para retomar meu curso de Filosofia e consegui. Reentrei em 2015. O objetivo primordial era conseguir uma pós para continuar a pesquisa sobre Barão Geraldo…
No dia 13 de maio de 2015 refundei o Jornal de Barão somente online (pelo Facebook) para ter como me manter. E depois em site pelo wordpress (ainda em 2015) mas não podia assumi-lo em meu nome por causa da Unicamp. Porém por causa de TODO desconhecimento em informática, programação, Google Adsense Ads etc, o negocio não andou…. Abri grupos do Facebook para praticamente todos os bairros de Barão Geraldo (grupos que não existiam) para poder captar noticias e divulgar eventuais propagandas. E, como sempre, as pessoas cada vez mais fortemente desconfiadas, extremamente grosseiras, paranoicas e violentas comigo. Sem qualquer motivo.
Quanto mais eu divulgava os conhecimentos acumulados, resultados, avanços e desenvolvimentos na pesquisa – superando muito e cada vez mais o que ja existia de historia de Barão apenas no senso comum , mas as pessoas não aceitavam, desconfiavam , me despachavam e agrediam…. (principalmente, o pessoal de PT e PSOL, é claro).
A pandemia de COVID poderia ter mudado tudo. Foi minha maior oportunidade (deveria ter só entrado de cabeça nas criptomoedas , como o Ethereum. muito baratas na época) O livro era pra ser publicado em 2019. Foi deixado para março de 2020 para o início das aulas. Mas a decretação do COVID impediu e cancelamos…. Deixamos para o final do ano a partir de Outubro, e o aniversário de Barão em dezembro quando foi lançado. Como eu queria que fosse barato (pois o objetivo principal era divulgar ) o livro vendeu bem… Sempre vendeu bem…
E Barão (como sempre, pra mim nada)….
Desde essa época , venho tentando organizar um grupo dos mais antigos baronenses para preservar a Historia de Barão. Para isso precisávamos criar uma Associação, criar um movimento politico para fazer abaixo assinados para conseguir tais preservações. TUDO FEITO COM BASE EM ESTUDOS , LEVANTAMENTOS PROFISSIONAIS DOCUMENTADOS ! Fiz vários cursos, inclusive uma Pós Graduação em Educação Patrimonial. E de nada adiantou como sempre…. Sempre não nem ditos mas claramente expressados. Como se eu nao existisse….
Tambem melhorei bastante o jornal mas sem Adsense (sem financiamento), era impossivel crescer… Tentei me juntar com o Integração e outros, vender e buscar outro negocio ou trabalho mas nada …. Além disso, a absurda (e burra) polarização Bolsonaro e Lula dominou completamente todos tornou-se uma guerra e isso era imposto a todos. Mas por varios motivos , (principalmente por conhecer MUITO de politica) minha opção foi sempre nem um , nem outro.
Desde essa época tentei DEZENAS de concursos para Mestrado e para empregos. Passei em 2 mas não me chamaram. Busquei muitos empregos em jornais mas reconheço que a competição com os atuais “jovens” jornalistas de 40 anos (90% de orientação dita “progressista” erronea e enganosamente) é altissima e pelo jeito não tenho vez mais…. TODOS ESSES ANOS TENTEI ACHAR UMA VAGA DE PROFESSOR NO ESTADO E OUTRAS ESCOLAS PARTICULARES… E NADA . Banco de Talentos e nada. Passei em 3 concursos do Estado e nada…
Em 2023 fui enganado por uma empresa que cobrou bem caro que montou ESTE SITE – se comprometendo a conseguir o Google Adsense… E simplesmente abandonou tudo…. Só queria o dinheiro… (CUIDADO COM A AGENCIA W.S. SITES INFORMATICA DO RIO DE JANEIRO!) E tambem em setembro de 2023 a principal pagina do Facebook foi roubada… E em março de 2024 fui “expulso” da Unicamp como sempre…
Enfim. O que pode uma pessoa sentir por um lugar ou cidade onde nunca teve nada e só foi excluído injustamente? O que Campinas me deu apesar de tudo o que fiz pela cidade? O que me proporcionou que pudesse valer a pena? E todos esses anos de trabalho e de luta que tive??
Enfim, por essa razão, nao tenho nada a comemorar. Só lamentar
Adeus Campinas
foto de Selma Fernandes