5º) Registro Original do Boi Falô (Gilberto Antoniolli, 1988)

INÍCIO DA MUDANÇA DE VERSÕES –

O boi falô torna-se “resistência à escravidão” e perde o sentido religioso

O 5º registro é do empresário baronense Gilberto Antoniolli, embora hoje se diz campineiro. Em 1988 ele era um dos proprietários e gerente do  Supermercado Barão e foi algumas vezes candidato a vereador pelo PFL.

Em março de 1988 ele mandou uma carta para o Correio Popular contando sua versão do mito do boi (como descrito abaixo)

Nessa versão ainda não existe Toninho  e ainda temos o Capão do Boi. Mas é a primeira versão que apareceu dizendo que o causo realmente aconteceu em 1888 e dois meses antes da abolição. E como naquele ano era excessivamente badalado nacionalmente, o Centenário da Abolição  – com liberação de muitos recursos e verbas do governo Sarney para tais comemorações – seu Gilberto sentiu uma oportunidade de conseguir preservar a lenda do boi e provavelmente a injustiça desse belo mito da cultura popular ainda não ser conhecido e ser desprezado até por Campinas !  (o que é evidente o desprezo de Campinas com Barão Geraldo – exceto com o pagamento de impostos, obvio) .

Seu Gilberto conta em sua versão que “um capataz  numa sexta feira santa (de 1888, diz depois)  ordenou a um escravo atrelar um boi ao arado para trabalhar a terra E que “minutos depois” o escravo voltou ao  capataz para dizer que o boi falô” e ponto. Acabou. Pois sua intenção não era apresentar uma versão . Mas sim apresentar a sua reflexão e propor a comemoração do “centenário” do boi falô para se “entrelaçar” à do Centenário da Abolição e à história do Brasil. E foi essa carta e versão que originou a ideia de fazer um livro sobre a história de Barão Geraldo a que foi encarregada ou se encarregou a professora Rita Ribeiro. (Não se sabe se houve um plano e articulação entre  Gilberto, Atilio Vicentin (subprefeito) e Rita – já durante os anos 1990 – para realizarem seu livro. Mas como o livro começa com essa carta – além de várias outras pistas nessa direção – fica esta a impressão.

Trata-se de uma versão que – como todas as outras – é legitima. Porém pelo que perguntamos a todos e conhecemos,  ela não era conhecida em Barão. Talvez fosse  falada por trabalhadores da Fazenda Santa Genebra – pois havia claramente uma cisão entre baronenses ligados à Rio das Pedras (administrada por Binão) e Santa Genebra (administrada por Alberto e Ari de Salvo que foi quem originou tal versão), ou por moradores de Campinas e é claro, pelos movimentos negro da época que lutava por direitos na Constituição que ainda estava sendo elaborada.  mas foge completamente do sentido geral da lenda tradicional contada em Barão E por isso não pode ser considerada  a principal ou oficial “lenda tradicional de Barão” pela Prefeitura – ao menos em relação à data em que ocorreu. Pois até agora não ha outra fonte.

Atenção: Não sabemos- ainda – de qualquer registro sobre o Boi Falô  entre 1983 e 1988 mas é provável que exista. Ou principalmente antes de 1973. Se alguém souber por favor nos envie. Pois pesquisamos em vários arquivos e bibliotecas e só encontramos esses

“LENDA OU FATO REAL ?

1 – Seu Gilberto diz que “há um século” existe uma “estória” que foi transformada em lenda pela crença dessa gente humilde“. Na época  ainda havia a diferenciação positivista entre “estória” (com o significado de mito ou lenda ou caso fantasioso sem comprovação) e o termo “história (com o significado de “fato real e comprovado por documento escrito”). Ocorre que,  a partir dos anos 1960 – com o surgimento da chamada “revolução documental” (como descreveu Jacques Le Goff), todos os documentos imagéticos – fotos, filmes, estatísticas,  desenhos, charges, etc  e também em musicas,  pinturas, e é claro mitos, lendas e memória  popular passaram a ser aceitos pela História também como documentos históricos. Assim – também com outras propostas teóricas  (“history from bellow”, História oral, do Cotidiano, Cultural, Micro História etc)  as “estorias” (mitos, lendas, causos  ate sonhos etc TAMBÈM  passaram a ser objetos e documentos históricos capazes de serem estudados e serem parte da historia reconhecida academicamente). E ja nos anos 1990  a própria ANPUH declarou  publicamente  que não havia diferença entre os termos estória e história.

2 – Outra questão aí é que para seu Gilberto  o causo  aconteceu realmente (o escravo inventou uma desculpa pra não trabalhar)  mas foi “transformado em lenda por gente humilde“. Isto é, para ele e muita gente, a crença dos trabalhadores rurais é uma ilusão, uma bobagem…

3 – Ele mesmo diz que “o escravo enfrentou seu capataz a mando do boi“. E que não acredita que o boi  “realmente” falou, mas que “o que esse negro  ouviu não  foi o boi, mas “o sentimento de liberdade, um grito rebelde que já não  segurava em seu íntimo (!!!) Daí em diante, Antoniolli  se utiliza do básico da argumentação do movimento  negro de “esquerda” que estava no auge naquele ano: foi em vão toda a luta pela Abolição? uma reação contra algumas afirmações da historiografia da época de que Zumbi e Palmares eram lendas ? (realmente existem inúmeras lendas relacionadas à dinastia desse Rei de Palmares, que não foi um só. Mas que – conforme informamos acima – foram incorporadas à historia de Zumbi) o que não significa dizer que ele não existiu. Pelo contrário.

4 – Antoniolli depois passa a imaginar que “o senhor respondeu” (?) e reafirma que foi o negro – e não o boi – quem gritou “Hoje não é dia de trabalhar” “e dois meses depois , em maio de 1888, veio a abolição com a assinatura da Lei Áurea , pela princesa Isabel” Ora , onde foi parar o boi? E em que esse causo influenciou  na Lei Áurea? (poderia se dizer os vários outros casos reais e documentados – ao contrario desse que NÂO HA QUALQUER INDÍCIO de ter acontecido) .

Isso foi o suficiente para transformarem uma lenda sobrenatural em um fato histórico   que comprova a teoria da “luta de classes” de Marx… E o boi? onde foi parar?

5 – Depois disso seu Gilberto conta o fato histórico  mais importante, real e necessário :

“A lenda do boi -falô resistiu por todo esse tempo e continua viva na memória e no coração do povo de Barão Geraldo, apesar de já há quase duas décadas ter sido derrubado o Capão do Boi Falô, local onde havia  maravilhosas árvores centenárias, para dar lugar  a um loteamento, o Jardim Santa Genebra”

O que é mais uma comprovação da necessidade de uma homenagem a alguma das praças do local com a preservação do nome “Capão do Boi” que ja foi tido como um lugar sagrado.

Mas o problema principal é que: Essa interpretação – defendida por seu Gilberto Antoniolli – passou a ser a oficial do Boi Falô daí em diante. Foi a versão da 1º Festa do Boi Falô – QUE INSTITUIU UM LENDÁRIO OU ILUSÓRIO “CENTENÁRIO DA LENDA” desde então (mas sempre sem qualquer comprovação) – e foi a versão defenddida e levada adiante pelo subprefeito Atílio Vicentin (que também foi várias vezes candidato a vereador) por vários anos – quando a festa foi colocada no Calendário Oficial de Campinas a pedido do vereador César Nunes em 1996. (A pedido do padre Paulo Crozera, a lei determina a Festa do Boi Falô nos Sábados de Aleluia. Porém , durante os anos 1990, seu Atilio como subprefeito continuou fazendo as festas nas Sextas Santas e foi incorporando à lenda o “escravo Toninho” que está sepultado ao lado do túmulo do Barão. E assim se construiu a nova versão “histórica” de “luta contra a escravidão” anos depois (durante os governos petistas) transformada em manifestação de “luta de classes” ( de um “escravizado” contra um patrão branco”) e contra o racismo, é obvio.

Mas antes dessa versão se tornar a oficial (fortalecida pelo “Ofício” (na forma de release) da Prefeitura a todos os jornais , TV,s radios etc….. e em seu próprio site) Surgiram ainda MAIS DUAS VERSÕES QUE CONTRARIAM ESTA – E QUE IREMOS VER A SEGUIR

Interessante notar que  Antoniolli – sendo um liberal, portanto de direita – defenda uma concepção do Boi  Falô que antes era defendida pelas professoras de história das escolas de Barão (praticamente todas de esquerda  ou petistas dessa época em diante) e depois por políticos e militantes dos partidos ditos de “esquerda” transformando o Boi Falô  numa luta (de classes, no sentido atual, fora da compreensão de Marx) de um escravo contra seus patrões “Um  grito de liberdade”

– Historicamente hoje se sabe que a abolição foi uma exigência da Inglaterra para concordar com a criação do Brasil no Congresso de Viena de 1815 e – durante 80  anos – houve uma luta entre abolicionistas e contrários  e crescente radicalização do império britânico. E como disse o historiador José Murillo de Carvalho, o próprio imperador queria a abolição, mas sabia que quando fosse decretada seria o fim do Império. A Lei Áurea foi proposta em 1887 no Senado e reapresentada em janeiro de 1888. Além disso, Antoniolli  deixa claro que  Campinas era “vanguarda da abolição” como aliás vários historiadores e documentos provam. E nunca “o último lugar que aboliu escravos” como diz outra lenda IMPOSTA GOELA ABAIXO NAS ESCOLAS PúBLICAS E EM LIVROS MUITO BEM PAGOS PELA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO! Trata-se de uma “fake-news”. Uma afirmação  totalmente sem nexo ou sentido. Já que 1888 ocorreu também em Campinas e, na pratica, a escravidão “continuou” sim (ilegal é claro e crime a partir de 1940) EM PRATICAMENTE TODO O BRASIL E são documentados milhares de casos até os anos 1960  no Rio, São Paulo e praticamente todo o interior.

Warney Smith Silva

  • Redação

    O Jornal de Barão e Região foi fundado em janeiro de 1992 em papel E em 13 de maio de 2015 somente on line

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