Um fato ocorrido em 30 de dezembro de 1953 lembra bastante a atual discussão do Plano Diretor e é um dos mais importantes da História de Barão: Vários baronenses foram ver o ato de assinatura e homologação do distrito de Barão Geraldo, aprovado pela Assembléia paulista, 2 meses antes. No ato, o juiz de paz e maior líder político de Barão Geraldo, o ferreiro Hélio Leonardi, recebeu o ato assinado das mãos do governador Lucas Garcêz. Quando retornaram para Barão à noite, o posto e a casa do então vereador Guido Camargo Penteado haviam sido apedrejadas, provavelmente por moradores contrários. Pois até então os moradores não pagavam impostos, mas também não tinham melhorias (como água, luz, estradas, ônibus etc). Com o correr dos anos, porém, os baronenses aprovaram o distrito e até apoiaram outra luta em que Hélio Leonardi também se integrou: a da criação do município, que após a morte de Hélio e o fim do período militar perdeu força política.
Mas uma pesquisa realizada pelo Jornal de Barão entre 18 e 28 de dezembro, com 150 moradores, demonstra forte desconhecimento tanto desse como dos principais fatos da história de Barão, isto é, a vila que após a 1a guerra, surgiu em torno da estação que lhe deu o nome. Perguntados qual foi esse movimento que houve em 1952-53, 54,7% dos entrevistados reconheceram desconhecer do que se tratava. Apenas 9,4% dos entrevistados acertaram que o movimento de 1952-53 se tratava da luta pelo distrito. Enquanto isso, 17% acreditaram se tratar do movimento pela doação de terras para a Unicamp , enquanto 11,3% acreditaram se tratar do movimento pela emancipação (ambos que ocorreram 10 anos depois).
Por isso quando perguntados quantos anos tinha Barão, apenas 2 pessoas acertaram a criação do distrito em 1953. Enquanto 28,3% achou que a fundação de Barão se dá com a fundação da estação em 1926 ( a vila criada por Plínio Aveniente já era conhecida desde 1920), ou insistem em ligar sua origem à morte do Barão Geraldo em 1907 (9,4%). Porém mais da metade (52,8%) reconheceu desconhecer a idade do distrito. (VEJAM OS PRINCIPAIS RESULTADOS DA PESQUISA MAIS ABAIXO)
Alguns moradores antigos de Barão reconhecem isso. Pedro Páttaro de 90 anos diz que depois da morte do Hélio Leonardi “apareceu um pessoal aí que trouxe umas histórias diferentes que não conhecíamos”. Colocando nomes estranhos nas ruas e falando só do Barão “Barão se tornou outra coisa depois da Unicamp amigo. Todos os mais antigos que conheciam a historia morreram. A gente não conhece mais nada” – Seu Pedro conta que seus irmãos conheciam todos os detalhes de Barão Mas diz que sua família vem se esforçando pra preservar a historia. Diz que os netos que foram para o exterior coletaram documentos e alguns ja escreveram até livros.
Seu primo Jair Páttaro também concorda. “Você acha que temos essa cultura de voces aí, de guardar história? Não nos não temos isso não! Isso é uma coisa muito pessoal. Ninguém se preocupa com historia de Barão não” – disse seu Jair .
Também seu Zulmiro Fernandes, de 91 anos, concorda com Pedro Páttaro. Filho de Modesto Fernandes , seu Miro, que foi o primeiro padeiro de Barão, disse que atualmente ninguém mais lembra de nada de Barão porque todo mundo morreu e a população mudou muito. “Veio muita gente que não sabe nada.” Seu Miro disse que a única coisa que lembram é da história do boi falô, mas mesmo assim é diferente do que ele aprendeu.
Seu Ademir Leme, 69, filho do primeiro açougueiro do lugar, João Leme, que nasceu e trabalhou na Fazenda Rio das Pedras, disse que não preservou nada de seus pais porque não tinham porque. “Não tenho nada. Jogamos tudo fora. Mas naquele tempo não se tirava foto não. Ninguém pensava em preservar historia ou que isso seria importante. Isso é coisa de agora”
Seu Antônio Moda , que também viveu a infância na Rio das Pedras, disse que vem levantando historia de sua família e até de Barão Geraldo há muito tempo Ele disse que já lutou e se preocupou muito com isso mas cansou. “Esse pessoal que tá na prefeitura não quer saber disso não. Tenho um bom material de minha família e Barão para as próximas gerações, minhas netas que vão fazer isso”. Seu Moda disse que tá esperando o trabalho do Centro de Memória que pode ajudar nisso
Para o historiador Warney Smith Silva, 55, morador em Barão desde 1986 e que pesquisou a história local para o Centro de Memória, esse desconhecimento é claramente resultado de uma tentativa “talvez não planejada” de apagamento da história local tanto pelos poderes públicos, como dos próprios moradores, a grande maioria novos e sem nenhuma raiz ou conhecimento de Barão. Mas também, até mesmo moradores nascidos em Barão que pretendiam “apagar” a historia local: “a historia da roça, a que lutou pelo “progresso”, do futebol, das famílias tradicionais, de Guido e Hélio, das mulheres da época, da luta pelo distrito como pelo município, nunca é ensinada”. Mas a principal responsabilidade para o historiador é dos professores de escolas de Barão e dos poderes públicos: “Primeiro que sabemos que os professores de história das escolas de Barão, geralmente formados na Unicamp ou Pucc não possuem qualquer conhecimento da historia local, não fizeram qualquer especialização ou levantamento ou pesquisa além do enorme desconhecimento que tradicionalmente é divulgado pelas secretarias, pela mídia pela Unicamp e Pucc, sempre iguais: Da morte do Barão (aliás mostrado como demoníaco), se pula para a criação da Unicamp, como se nada tivesse acontecido nesses 60 anos, que foi justamente a criação e fortalecimento de Barão Geraldo, “.
Warney lembra que alguns dos baronenses contam que se integraram na luta pela Unicamp, indo pedir ao Almeida Prado a doação de terras e fazendo festa para Zeferino, tudo por forte influência do vereador Honório Chiminazzo cuja irmã morava em Barão. “Além disso, tudo isso é passado para as crianças com fortes preconceitos, desligado dos valores e movimentos de época e desconhecendo totalmente os fatos e sempre partindo de problemas atuais”. Segundo ele a Unicamp e Pucc tem forte responsabilidade nisso, pois nunca investiram para recuperar e preservar a história e os patrimônios locais e formar professores mais preparados.
Além disso, para Smith há uma clara tentativa de moradores de apagarem a história da luta pelo distrito e pelo município: “Basta ver: além dos nomes de Guido e Hélio terem desaparecido em Barão, todas as placas com o nome de Guido foram apagadas na rua com seu nome no Real Parque. Ao contrario, colocou-se nomes que nada tem a ver com Barão nas principais avenidas. Ninguém mais fala dos nomes deles e seus movimentos. E o próprio movimento pela criação do município é completamente esquecido e apagado. O que é inaceitável em termos de ensino de história” – disse Smith
Segundo Smith outro fator decisivo desse “apagamento” são as ações da Prefeitura e da Câmara, tirando poder das subprefeituras, colocando nomes de pessoas nas ruas que nada tem a ver com Barão, não levando em consideração as concepções dos moradores, impondo planos diretores e administrações regionais e sempre colocando administradores que nada conhecem da historia local e acham que a história e a da prefeitura ou contada externamente. ELe também disse ter bastante material mais de 300 fotos antigas e gravações que pretende publicar seu livro “o quanto antes”.
O subprefeito Donizeti Gomes também concorda que a história de Barão está sendo esquecida e apagada e também acha que as secretarias de educação, cultura e turismo deveriam recuperar e fortalecer a historia de Barão, inclusive para fortalecer o turismo e o comércio local. “Barão tem uma história e um potencial turístico ambiental tão forte como o de Sousas e Joaquim Egídio e que não é explorado. Sobretudo pela presença das universidades e grupos culturais”. Ele defende que a Unicamp deveria fortalecer mais a pesquisa desses pontos locais que poderiam criar novos empreendimentos sobretudo nas áreas de lazer, de ciência ambiental e cultura, sem ser necessário. Mas acha que isso só pode ser conseguido com uma atuação conjunta de poder publico, representantes locais e a universidade.” – declarou.
AS RESPOSTAS DA PESQUISA
As respostas da pesquisa se contrapõem totalmente à primeira pergunta, isto é, se conheciam a História de Barão. Enquanto a maioria diz que conhece “um pouco” ou “mais ou menos” (52,8%) nossa história, 17% declaram conhecer bastante e APENAS 17% reconhece desconhece-la totalmente, ou não saber dizer (13,2%).
Mas como veremos, os que disseram conhecer também demonstraram desconhecer os fatos principais.
O principal estranhamento preocupante é que 64,2% acreditam que o distrito fica nas terras que pertenceram ao Barão Geraldo, enquanto apenas 26,4% declaram não saber. E apenas 11,3% acertaram. O fato é que as terras do Barão Geraldo até 1907 (quando ainda não havia a vila) iam do Terminal até o Taquaral e Vila Nova (Santa Elisa – IAC). Ou seja 80% do território de Barão ficava na Fazenda Rio das Pedras que nunca pertenceu ao Barão.( A não ser que se considere os bairros S. Genebra, Costa e Silva e 31 de Março como ártes de Barão, ja que ficava nas antigas terras dele).
Aliás, em outra pergunta da pesquisa, 45,3% acertou que a Santa Genebra eram as terras do Barão, enquanto 37,7% errou ao citar a Rio das Pedras, que pertenceu à família de Albino Barbosa de Oliveira e 26,4% reconheceram não saber.
Mais o erro mais preocupante é acreditarem que o Barão doou as terras do distrito! Nada menos que 34% acreditam nisso enquanto 28,3% declaram não saber. Mas 15% disseram que seu nome foi dado ao bairro após sua morte, ou que ele tenha criado a ferrovia e a estação (o que nunca aconteceu. Pois a estação só foi construída em 1926). A resposta correta só foi citada por 11,8% dos entrevistados: que seu nome foi dado à Estação (em 1908) e que, em torno da estação, surgiu a vila que assumiu o nome da estação: Barão Geraldo. “É por isso que Betel S. Terezinha João Aranha e outros bairros possuem identidade tão forte como a de Barão. Pois também foram estações da Funilense”. – disse Smith
Os baronenses atuais também não sabem quem foram os primeiros habitantes que originaram a vila. Conforme levantou o historiador Smith em seu livro, a primeira propriedade, de 22 alqueires, foi comprada da Fazenda Rio das Pedras pelo vendeiro do lugar , o italiano Plínio Aveniente. Tais terras cobriam todo o atual centro de Barão desde a antiga estação (atual Terminal) até a “lagoa do Burato” (onde fica o Brasuca). Apenas 18,9% acertaram que Aveniente comprou da Rio das Pedras. 19% disseram que foi da Santa Genebra Mas 47,2% reconheceram não saber.
Mas na pesquisa, apenas 1 pessoa citou Plínio Aveniente. Enquanto 49,1% reconheceram não saber, 20,8% disseram ser Albino Jose Barbosa de Oliveira (que é na verdade quem vendeu as terras para Plínio), ou 13,2% citou Ângelo Vicentin que nunca comprou terras onde é hoje Barão.
E quanto aos primeiros proprietários que formaram a vila ao comprarem as terras de Plinio Aveniente , 56,6% assumiram não saber quem foram. Dos que acertaram quem realmente comprou as terras de Aveniente, 11,3% citaram Luis Vicentin, outros 11,3% citaram Modesto Fernandes, 5,7% citaram Horácio Leonardi, 3,8% Chiquito de Barros, Manuel Antunes Novo 5,7% e 1,9% citaram Domingos Bonatti.
Mas também vários outros citaram nomes errados: como os fazendeiros Albino e José Pedro (que venderam terras) , 13,2%, Atilio Vicentin, 15%, Agostinho Páttaro 15%(que comprou de Domingos Bonatti) Benedito Alves Aranha 7,5 (que comprou da Sorocabana) e Romeu Tórtima que nunca veio ou morou em Barão.
A CAPELA ORIGINAL E A FESTA MAIS ANTIGA
A maioria (43,4%), acertou que a primeira capela – anterior à formação de Barão – era a Capela de Santa Isabel, então pertencente à Fazenda Rio das Pedras (e onde hoje é o Santander) e onde se começou a fazer a Festa anual a Santa Isabel. Mas 34% declararam não saber.
Mas a grande maioria – 62,3% – “estranhamente” errou ao dizer que a Festa do Boi Falô era a mais antiga. Uma clara demonstração do que a maciça propaganda errônea da Prefeitura e meios de comunicação faz com a população. 18,8% declararam não saber e apenas 9,4% acertaram a resposta correta, que era a Festa de Santa Isabel, ou a atual Festa da Padroeira, surgida por volta de 1905.
A IMPORTÂNCIA DO FUTEBOL
Quem conhece a história de Barão Geraldo sabe da enorme importância do futebol de várzea (na verdade rural) para a formação do lugar, ainda no início do século XX. Mas a maioria também declarou desconhecer quando o futebol começou em Barão 56,6% , enquanto 18,9% acertaram a resposta correta, de que já havia um campo de futebol ao lado da casa de Plínio Aveniente, (onde hoje é o Burguer King) na década de 1910-20. E que era bastante usado pelos colonos das fazendas.
PRIMEIRA INDÚSTRIA E LOTEAMENTO
A maioria 41,5% também declarou desconhecer qual a primeira indústria de Barão (ou considerada de Barão na época em que centenas de baronenses trabalharam ). Mas 35% acertaram ao dizer que foi a fábrica da Rhodia instalada em 1943. 9,4% ainda citou a Replan construída apenas em 1969.
Também sobre o que é considerado o primeiro loteamento de Barão, 41,5% declararam desconhecer. Alguns (17%)ainda citaram uma venda de chácaras da Rio das Pedras em 1910 (que não é considerado loteamento, porque continuaram rurais). Ou a Vila Santa Izabel que foi o 5º loteamento. Apenas 7,5% acertaram que o primeiro considerado loteamento (devido a ser zona urbana) foi o de Luis Vicentin em 1947. (a que se seguiram os de Augustinho Páttaro e Modesto Fernandes).
OS MOVIMENTOS HISTÓRICOS
A maioria também desconhece os principais movimentos políticos originais de Barão e que marcaram a história local. Sobre o primeiro movimento político de Barão, em 1935, 56,6% declarou desconhecer . 20,8% achou que se tratava do movimento pela criação do Distrito e ainda por Lázaro Farias eu nem vivia em Barão. Também citaram outros motivos como água e impostos. Mas APENAS 2 pessoas (1,3%) acertaram que foi o movimento pela iluminação liderado por Hélio Leonardi.
Já o movimento pelo distrito, iniciado por Hélio e Guido em 1952, apenas 9,4% acertaram. Mas 54,7% declararam desconhecer. Além disso também foi confundido com lutas por doação de terras para a Unicamp (17%), por estradas (5,7%) e até pela emancipação (11,3).
E no contexto do movimento pela criação da Unicamp já nos anos 1960, 43,4% declararam desconhecer quem doou as terras para a Unicamp e de que fazenda elas eram. Mas 20,8% acreditou ter sido o próprio Barão (morto em 1907) que doou parte da Santa Genebra ou mesmo dona Jandyra 17%. Apenas 5,7% acertaram que foi Almeida Prado que doou os 30 alqueires da Rio das Pedras e isso somente em 1964-65.
Por fim, sobre o movimento pela construção e criação da Paróquia – que foi inaugurada com autoridades e mais de 5000 pessoas em 1963 – 41,5% também declararam desconhecer. Mas 24,5% declararam ser a fundação da Unicamp e outros ainda citaram a fundação do distrito, ou da cidade Universitária, ou o “boi falo” (7,5%!!!) e até o Berra Vaca! Apenas 3 pessoas (2%) citaram a correta: a fundação da Paroquia de Santa Isabel
QUEM RESPONDEU A PESQUISA:
Agradecemos E MUITO a todas as pessoas que se dispuseram a responder nossa pesquisa. E que não perguntamos o nome, pois só buscávamos resultados genéricos.
Sobre as pessoas que responderam , 56,6% disseram ser mulher e 43,4%, homens. Quanto à idade, 14% declararam tem de 17 a 29 anos, 32% de 30 a 50 anos e 15% disseram ter de 51 a 70 anos, enquanto 38% não disseram suas idades.
Dos que responderam, a maioria (49%) disseram que vivem em Barão de 1 mês a 10 anos. Enquanto 30,9% vivem em Barão de 11 a 35 anos , 10,9% vivem em Barão de 36 a 60 anos. Enquanto 10% não responderam ou disseram não morar em Barão.
Dos que responderam a absoluta maioria é procedente de fora de Campinas. 24% são originários de várias cidades do interior paulista, enquanto 24% são nascidos em outros lugares de Campinas. Mas outros 12% são originários da cidade de São Paulo. Outros 12 % são de várias cidades do Paraná (como Curitiba). 6% são estrangeiros (Peru, Chile Argentina, etc), 2% de Minas , 2% do Rio de Janeiro. Apenas 11% disseram ter nascido em Barão Geraldo. (5% nao responderam)
A distribuição da pesquisa parece ter sido boa. Perguntados em qual bairro que moravam, 22,4% disseram morar nas partes da Cidade Universitária. 17,54% disseram viver nos bairros ao longo da Estrada da Rhodia (Terras, V. Holândia, Barão do Café, Jardim do Sol), outras 17,24% na região do VIllage e Vale das Garças, passando pelo Jd. Alto e Guará , até o Bosque e Parque das Universidades.
12 % disseram morar na região central de Barão ; 10,3 % na região da mata (Real Parque, Bosque, S Gonçalo ,Terra Nova), outros 10% na região da Vila Santa Isabel, Moradia, J. América ou Independência, enquanto outros 10% declararam bairros que não são de Barão ou Campinas.
98% disseram se interessar pela História de Barão. A maioria por aqui viverem.
Muito legal a sua pesquisa. Penso que um texto com a hostoria ajudaria a ensinar aos baronenses adotivos a historia que voces gostariam de divulgar!
A pesquisa não é nossa e sim do historiador Warney Smith Silva. Publicaremos pesquisas de outros também … Infelizmente quase ninguém se interessa por essa necessidade por puro preconceito…