Barão Geraldo ainda longe

por Adilson Roberto Gonçalves

Assim “longe” – continua Barão Geraldo sendo considerado até hoje, especialmente quando sugiro locais no distrito para a realização de reuniões, encontros e eventos da área cultural. Há os que dizem que Castelo ou o Cambuí são lugares longe, uma vez que querem ir a pé, residindo, talvez em maioria, no Centro de Campinas. Acabam, pois, ficando perto quando a proposta é Barão Geraldo.

O “escândalo” se faz presente, pois aqui é longe, muito longe. Eu não me importo em me locomover até a “cidade”, mas parece que a preferência cultural não segue o mesmo pressuposto na direção oposta.


Lembro que, adolescente, trabalhando como balconista em uma loja de tintas na Avenida das Amoreiras, no Jardim do Lago, tive por um tempo a função de também realizar entregas com uma Mobilete, um ciclomotor de 50 cc e motor de dois tempos. Inimaginável em dias correntes essa possibilidade legal e funcional. Era registrado como “auxiliar de balcão” (que a secretária escreveu à mão na Carteira de Trabalho “balção”) e não havia muita dúvida em permitir a direção de veículo automotor por menor de idade (A carteira de habilitação fui tirar apenas com quase 30 anos de idade!).

Numa dessas entregas, o destino era Barão Geraldo e eu nunca soube onde era a entrada do distrito. Informaram ir até a Vila Nova e seguir pelo tapetão e entrar à direita. Vi-me na Rodovia D. Pedro I, sem muita noção. Voltei de lá sem sucesso e sob uma baita bronca por minha ignorância. Bastava seguir mais uns 600 metros e estaria na entrada que hoje é literalmente meu caminho de casa.
Mas somente fui chegar perto de Barão Geraldo quando prestei o vestibular, isso porque a segunda fase da então Fuvest foi no câmpus da PUC. E, finalmente, em março de 1985, descobri como lá chegar e adentrar a Unicamp. Morando na Cidade Jardim à beira da Rodovia Anhanguera, Barão Geraldo continuava longe.

O distrito vez por outra resgata o movimento emancipacionista, alegando ter condições para se manter como cidade independente, ou seja, mais longe ainda de Campinas. O custo é muito alto, mas alega-se que o distrito fica abandonado do poder central. Isso é fato, mas nada diferente do que acontece em muitas regiões periféricas da cidade, com índices econômicos menos favoráveis.
Estas reminiscências integrariam um artigo para o projeto “Campinas: Testemunhos e
Lembranças
”, do Acadêmico Agostinho Toffoli Tavolaro, que esperamos tenha material suficiente para ser concluído. De toda forma, adentrando um pouquinho na história, lembremos que a criação dos distritos na parte norte da cidade teve o objetivo de serem vetores de crescimento nessa direção.
Com a valorização imobiliária advinda da especulação, ocorreu exatamente o oposto e a cidade cresceu principalmente para o sul, em direção ao aeroporto de Viracopos. Um alerta para os que continuam a propor áreas de adensamento urbano aqui. Mas o melhor é consultar especialistas na História de Barão Geraldo, como o Warney Smith Silva, autor de “Barão Geraldo: A luta pela autonomia” (ed. Pontes, 2a. ed., 2021), citado neste espaço (“Histórias vividas e as que precisam ser contadas”, 17/3/2023, A3).

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas e do Instituto de Estudos Valeparaibanos.

  • Redação

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