Barão Geraldo faz 71 anos…alguém se importa?
POR WARNEY SMITH SILVA
Neste dia 30 de Dezembro, Barão Geraldo completa 71 anos como distrito. Mas ao contrário de diversos bairros e distritos (Sousas , Campo Grande, Ouro Verde e até a Vila Costa e Silva que comemoram seus aniversários) ninguém se importa. Na verdade, a expressão correta é ninguém mais se importa. (como se importavam antes , ao menos em Barão).
Até a época em que Atilio Vicentin foi subprefeito ( ultimo governo de Chico Amaral), já com Flores, começou o desprezo que continuou e se fortaleceu pelos governos Izalene, Dr Hélio , Demétrio e principalmente nos governos de Jonas Donizete…. E com base nas pesquisas e acompanhamento que sempre fiz, desde quando Barão fez 50 anos em 2003 (quando fizeram ate um jornal específico Semana – e a reafirmação da antiga Historia baseada em lendas – como no livro de Rita Ribeiro- ou na Historia dos “Primeiros”) ninguém se importa mais. É claro que isso não ocorre apenas por um motivo Mas quais seriam os motivos?
Como historiador, pesquisador e pensador das questões sociais suponho e proponho alguns motivos e razões dessa mudança de comportamento de forma generalizada é claro
A mais forte e provável é o amplo aumento da população do distrito com pessoas que desconhecem a História, identificações, nomes, características e até alguns valores locais e que são cada vez mais desprezadas.
Cada pessoa e família nova que vem morar no distrito trás sua formação específica com outros conhecimentos, valores e identidades totalmente diferentes: universitários, pesquisadores, funcionários públicos, comerciantes, investidores, migrantes e imigrantes, e talvez , num grupo menor, parentes . Acredito que esses são os principais grupos identitários que há pouco tempo (desde o ano 2000) começaram a migrar e vir morar em Barão Geraldo (assim como em Campinas e todas as cidades da região, dependendo de certas características locais).
NOVAS POPULAÇÕES E NOVAS IDENTIDADES DE BARÃO
Universitários
O grupo mais falado de novos moradores é o de “Universitários” devido à presença de 2 grandes universidades (Unicamp e Puccamp) e 2 faculdades (Facamp e instituto Ilum – havia uma terceira , “Nazarena” que fechou). Porém esse grupo não engloba só os estudantes (que seriam muito poucos os que influenciariam no distrito), mas também os professores e trabalhadores contratados por elas. (importante repetir que estou falando de NOVOS MORADORES que compraram imóveis ou decidiram VIVER em Barão Geraldo, mesmo com aluguel).
As principais características desse grupo é que colocam a atividade cientifica e o pensamento Internacional acima de tudo. O que importa para eles é o desenvolvimento e a propagação pública do conhecimento acadêmico e científico e tecnologico e da filosofia originados em séculos de pesquisa no Ocidente. Isso engloba a política, a economia e a situação do conhecimento em termos mundiais. (atualmente a questão mundial mais discutida e polêmica é a questão ambiental e das mudanças climáticas . Com milhões de dólares e centenas e talvez milhares de estudos em várias áreas sobre esse problema). Professores, estudantes e pesquisadores disputam esses financiamentos de pesquisa interessados sempre em ampliar o conhecimento humano “universal” (valido para todos) e com isso ascender na carreira hierárquica. Já os profissionais entraram por concurso publico e estão la para ajudar/ auxiliar na parte técnica desse trabalho de professores , estudantes e pesquisadores. Porém em sua maiora não estão interessados em Ciência ou problemas mundiais e sim em sua família, posses e condições pessoais. Enfim muitos desse grupo ligados ás universidades compraram ou possuem moradia fixa em Barão.
O grupo de Pesquisadores (cientificos e tecnológicos e de população/mercado) j á formados e com forte formação de pos graduação ja terminada é quase parte integrante do grupo acima. Porém são poucos deles os que estão ligados à Unicamp, Puccamp e facamp. A maioria são funcionários trabalham nas várias empresas de pesquisa (Telebrás, CNPEM, Eldorado, ….. e também ha essa carreira na Unicamp, embora pouquissimos) Tambem colocam a Ciencia e a questão mundial em primeiro lugar. Mas no caso, preocupam-se principalmente com suas carreiras e familias pessoais.
Os Funcionários públicos são pessoas que trabalham em órgãos publicos (Estado, Prefeituras, Governo Federal, autarquias etc.) em cargos concursados em diversos campos e níveis. A maioria desse grande grupo possui uma ótima educação , mas não são pesquisadores científicos e são raros ligados às universidades. Boa parte deles se preocupam com a politica em vários níveis e tentam influenciar, apoiar . Todos vieram morar em Barão por indicação imobiliária , por promessas em viver com “melhor qualidade de vida” e exigem muito isso. Suas maiores preocupações no entanto são pessoais: (carreira e família e autosustentação).
Podemos colocar aqui, por exemplo, os professores de História que foram contratados nos anos 1970 e 80 (em diante) das escolas de Barão Geraldo existentes nesses anos. Esses professores vieram de outros locais (até mesmo de fora de Campinas) , não se interessaram em pesquisar a História de Barão de fato , mas adaptaram a Historia que aprenderam nos livros e cursos que estudaram e impuseram à Barão Geraldo (como fizeram com a Lenda do Boi – transformando-a em “luta de classes”, “luta contra a escravidão” e até contra o racismo – coisas que não existiam na história local), provavelmente para “ficar mais fácil” passar e ensinar a matéria da escravidão e a teoria das lutas de classe (obrigatórias nos livros didáticos) para os alunos….
Comerciantes
Outro grupo que decidiu viver em Barão foi o grupo de Comerciantes que abriram lojas e diversos negócios em Barão tendo como clientela alvo o público universitário e outros de Barão. Esse grupo não tem ou não condições ou vontades de ter uma carreira acadêmica. São de diversas outras cidades do Estado de São Paulo, Paraná, Minas e outros estados. A maioria são recem casados e ou vieram com suas familias em busca de “melhorar qualidade de vida”. Vieram para ganhar dinheiro e melhorar de vida apostando no “alto nível de renda do publico universitário“, tentando oferecer serviços e produtos do melhor nível possível. Compraram ou alugam imóveis em Barão e boa parte deles se aproximam muito dos grupos mais tradicionais locais (em sua maioria católicos ou evangélicos) de outros grupos, mas inclusive de Barão. E por isso , boa parte se interessa pela História e cultura de Barão. (como sua data de aniversario etc). Mas nem todos . Uma pequena parte dos comerciantes são mais dirigidos e voltados para o publico universitário, de concepção dita mais “à esquerda” ou contracultural (artistas, alternativos, artesãos, às Artes e Ciências Humanas a quem se integram mais por amizade. Esses, por outro lado, não se interessam pela Historia de Barão.
Investidores
O grupo de investidores é um grupo muito pequeno. Tem moradores e muitos não moradores, porém todos são aplicadores em negócios infra estruturais e imobiliários em Barão: condomínios, prédios de aluguel de kitnets e apartamentos (a maioria voltado para estudantes e pesquisadores temporários), mini-shoppings, galerias, mini mercados, prédios de lojas e casas. Raros são os industriais.
Migrantes e Imigrantes
Por fim o grande grupo dos migrantes e imigrantes são pessoas que vieram para trabalhar tentar a vida em Campinas – ou outro lugar. Boa parte deles trouxeram familias. Praticamente todos vieram a convite de empresas, parentes ou amigos/ conterrâneos. A maioria são pessoas de outros municípios do Estado de São Paulo ou do Paraná. Depois vem os de outros Estados como Minas, Rio de Janeiro , ou de estados do Nordeste ou Sul . Já o grupos de imigrantes , uma boa parcela são de Haitianos e de Nigerianos, Angolanos e outros paises africanos . A maioria ligados à alguma igreja evangélica. Vieram sob convite para trabalharem em empresas de ou indicadas por familiares e/ou amigos. Mas não tem a menor estabilidade (Alguns poucos vieram via Unicamp). Vieram com o objetivo de recomeçar a vida, arrumarem algum salario, pagarem local para ficar e comida porem não se sabe ate quando. Esses é claro não se interessam nem um pouco pela historia e tradições locais e pouco compreendem esses valores e conhecimentos.
Grupos tradicionais locais: os “baronenses”
Todos esses grupos se contrapõem ao grupo de moradores descendentes dos mais antigos e tradicionais de Barão. os “baronenses” são descendentes daqueles que vieram para Barão ANTES da Unicamp. Portanto, famílias que vieram até os anos 1966/67 , compraram propriedades e se estabeleceram em Barão. São descendentes dos primeiros migrantes brasileiros e imigrantes estrangeiros que vieram morar no entorno ou próximo à Estação Barão Geraldo que parou de funcionar por volta de 1960, quando a primeira estrada entre Campinas e cidades da regiao norte foi pavimentada.
Esses migrantes e descendentes de imigrantes construiram uma forte identidade local ligados à produção rural , aos transportes, ao comércio local e igreja e ao início do mercado imobiliário em Barão e Campinas. Viveram um período de uma politica do Municipalismo” da criação e fortalecimento de inumeros municipios no Brasil e principalmente em São Paulo a partir das Estações ferroviárias e grandes centros comerciais e urbanos. Na mesma época em que moradores lutaram pela criação do Distrito , foram fundados dezenas de Municipios em todo o Estado: como SUmare, Valinhos, Vinhedo, Jaguariuna, Paulinia etc. Essa era uma influencia muito forte um “imperativo do progresso” como dizia o primeiro vereador de Barão Guido Camargo Penteado.
Foram entre esses anos (decadas de 1950-1960) que chegaram diversos outros migrantes descendentes de imigrantes ( como as familias Quirino, Montagner, Crote, Eugenio, Gomes, Pereira, Barcelar, Hernandez e varias outras etc…) com as características culturais muito parecidas aos das primeiras familias: raízes campesinas , filhos e trabalhadores rurais e trabalhadores de indústria e automobilística (mecânicos, eletricistas, pedreiros, marceneiros, etc) , lutando por “progresso” e enriquecimento familiar, sem condições de estudarem, faculdades e para quem interessavam suas famílias , o local e a melhoria da vida deles e local. E também a religião inicialmente católica que era quase uma obrigação. (boa parte depois se tornaram evangélicos a partir do final dos anos 1980 e anos 1990).
Esse grupo fortaleceu muito a identidade local de Barão Geraldo antes do crescimento da população universitaria e pesquisadores que começaram a trazer os ideais ambientalistas e de esquerda (revolucionarios da classe operária contra a burguesia) a partir dos anos 1970-1980 , quando Barão passou a ser visto totalmente diferente do que era antes. Mas também desconhecia a Estação que deu nome ao distrito e a propria historia local. Barão não era mais vista como uma pequena cidadezinha do interior , mas apenas como um “bairrozinho com ainda boa qualidade de vida” (devido à forte vegetação existente e grande parcela rural) de Campinas E foi essa parcela e perspectiva (de desprezo e apagamento da historia anterior) que cresceu e se fortaleceu em Campinas desde os anos 1990 e é dominante em Barão ainda hoje ….
Houve mesmo uma tentativa de recriação de Barão Geraldo apos o ano 2000 – como um “territorio de negros escravizados” que nunca foi real . Pois Não havia local com esse nome antes de 1908…. Nem de 1899 quando foi fundada a Estação Santa Genebra….
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