Uma comissão de moradores de Campinas, militantes pela preservação do Patrimônio Histórico e ferroviário da cidade, esteve na Prefeitura de Campinas no início de abril para entregar abaixo assinados solicitando o tombamento e preservação de imóveis históricos de Barão Geraldo. São os moradores Luis Carlos de Souza , Hélio Silva Jr, Warney Smith Silva e Moisés Cunha. Luís Carlos e Helio Silva filhos de ferroviários , conviveram muito tempo na infância com ferrovias no passado de Campinas, o mesmo aconteceu com os outros também. O Patrimônio Ferroviário é o mais rico e público pertencente à União Federal. Mas eles denunciam e lutam também contra o furto de placas de bronze dos bustos e homenagens.
Eles entregaram 3 pedidos de Tombamentos: O Conjunto Arquitetônico (Sobrado e complexo cafeeiro) da Fazenda Santa Genebra (por razões históricas e não por estar ao lado da Mata Santa Genebrinha); a casa da Estação Barão Geraldo (que deu o nome à vila e ao distrito) fundada em 1926 e o pedido de preservação da “Praça do Capão do Boi” (com a mudança de nome da praça Libertador General José de San Martín) e Tombamento por ter sido o local que os antigos moradores diziam que foi aonde o boi falou em tempo imemorial e que era tido como lugar sagrado pelos antigos antigos moradores.
Cada pedido de tombamento possui um abaixo assinado com cerca de 60 assinaturas. Incluindo entre elas a do ex reitor Marcelo Knobel, de vários ex vereadores (como Valdir Terrazan , Marcela Moreira, César Nunes, etc.) professores da Unicamp e vários moradores da cidade que consideram fundamentais a preservação e memorização desses imóveis para a Historia da cidade que hoje faz 250 anos.
Para Luis Carlos de Souza, os pedidos de tombamento são fundamentais para as futuras gerações, para integrar o distrito à Historia da cidade e para continuar a luta pela preservação do patrimônio e da memória ferroviária e cafeeira de Campinas
“Sabemos que no final do século 19, Campinas era considerada o “portal de entrada do sertão”, a “capital do interior”, a “princesa do Oeste” o maior entroncamento ferroviário onde se encontravam as tres maiores ferrovias do Estado. E onde foram parar os principais símbolos dessa fase de glória fundamental para a história da cidade? Agora fazendo 250 anos não é hora de preserva-los? ” – disse Luis .
Para eles o tombamento e a preservação da Fazenda Santa Genebra – criada há mais de 170 anos – cujo complexo cafeeiro (sobrado, pátio, oficinas, trilhos, casas etc) foram construídos a partir de 1870 há cerca de 150 anos é essencial para a preservação da memória do período cafeeiro da cidade. O mesmo acontece com a praça mais próxima ao lendário “Capão do Boi” onde os antigos pioneiros do bairro rural Barão Geraldo diziam que era onde o boi da lenda teria falado, ainda no período escravocrata, quando também a Semana Santa era a data católica mais rigorosa e respeitada da história da cidade.
Já a Casa da Estação Barão Geraldo é essencial por ser parte do patrimônio ferroviário de Campinas. Ela pertencia ao Ramal Funilense da Estrada de Ferro Sorocabana. Apesar da ferrovia ter sido fundada em 1899 a estação, ainda sem qualquer prédio, tinha o nome de Santa Genebra. Ela só passou a se chamar “Barão Geraldo” em 12/4/1908 após o falecimento deste, no mesmo dia e como parte da ferrovia que saía do Mercadão. Por volta de 1915 a Funilense construiu uma primeira guarita com o nome Barão Geraldo. No local ainda não havia qualquer povoação e as terras pertenciam ao italiano Plinio Aveniente. O local era conhecido como Santa Isabel devido à capela central. Mas quando a Sorocabana assumiu a Funilense em 1923 mandou construir varias estações, inclusive a Estação Barão Geraldo, inaugurada em setembro de 1926. Foi depois disso que Plinio Aveniente começou a lotear o que é hoje todo o centro de Barão, e assim surgiu a vila, que tomou o nome da estação.
Em 1962 a Sorocabana parou de operar a Funilense (como ja vinha anunciando) como muitas outras linhas e autorizou apenas alguns de seus ex funcionários a ocuparem as casas das Estações. No caso da Estação Barão Geraldo, foi ocupada por seu Sílvio Olivério, ex telegrafista de outra estação. Porém em 1971 todo o patrimônio da Sorocabana passou a fazer parte da FEPASA e em 1996, passou a ser propriedade da “Malha Paulista” da Rede Ferroviária Federal. E esse ramal até hoje continua pertencendo ao Governo Federal. O que nós pedimos é o tombamento e a preservação dessa estação devido à importância que ela teve criando e dando nome ao bairro rural que depois se tornou distrito.
“A restauração e conservação da estação de Barão Geraldo, da EFF, acho de uma iniciativa fundamental para o resgate da história do Distrito, consequentemente da
cidade de Campinas!” – declarou Hélio Silva Jr.
PRAÇA DO CAPÃO DO BOI:
Ja o pedido de tombamento e preservação da praça mais próxima de onde ficava o extinto “Capão do Boi” tem como objetivo preservar um local que antigamente era considerado “sagrado ou consagrado pelos antigos moradores.
O “Capão do Boi” era um pequeno bosque que havia logo na entrada de Barão onde hoje há prédios comerciais, ao lado da praça de entrada. E era considerado “sagrado” porque os antigos moradores diziam que foi lá que o boi falou. Porém o nome “Capão do Boi” vinha sendo esquecido em Campinas e se perdendo. Mas houve protestos em Barão após sua derrubada com a construção da Avenida 1 (Romeu Tórtima – que deveria se chamar na verdade Guido Camargo Penteado Sobrinho, pois ele doou terrenos para fazer a pista, além da Fazenda). Quem contou desses protestos foram seu Antônio Ferrari que ficou bem revoltado com sua “derrubada” e também reclamação de dona Jandyra Pamplona de Oliveira que – após ter parte de suas terras desapropriadas para construção do Hospital de Clinicas, se negava a doar e autorizar concessão de mais terras para a Unicamp ou Cidade Universitaria. Conforme noticia da época, dona Jandyra recebeu o prefeito Rui Novaes que foi solicitar a ela a concessão do terreno para a construção da avenida 1 (Romeu Tórtima) quando ela reclamou que ele não podia derrubar o Capão do Boi sem autorização. Neste pedido, os autores solicitam que MUDEM o nome da praça General San Martin (fundador da Argentina) e coloquem o nome Capão do Boi para que seja tombado e justamente ter o local preservado .
“Trata-se de um Patrimõnio imaterial de Campinas que precisa ser preservado, inclusive para corrigir erros crassos que havia na própria Prefeitura. Por falta de pesquisa e de estudo da Historia de Barão, por anos e anos de desprezo e desrespeito ao povo de Barão Geraldo, alguns tentaram impor que foi na Mata Santa Genebrinha onde teria ocorrido o “causo” do Boi que teria falado.. Mas é so perguntar para os antigos moradores de Barão e todos vão dizer que se tratava desse lugar . Onde os antigos tinham medo de passar, se benziam, acendiam velas e não passavam dentro desse pequeno bosque. Que foi reduzido a uma árvore apenas , quando construida a Avenida Romeu Tórtima” – conta o historiador Warney Smith Silva.
Também para o ex funcionário Moisés Cunha, (conhecido como “Moshe”) tais pedidos de tombamento em Barão Geraldo, são bastante importantes para a História de Campinas, principalmente agora fazendo 250 anos . Não apenas a praça proxima do local onde os antigos diziam ser o local onde o boi falou, “…como a lenda foi preservada, o local tambem precisa ser“
“Além disso, o sobrado e o Complexo Cafeeiro da Fazenda Santa Genebra, de aproximadamente 150 anos, mostra bem o Ciclo do Café e as mudanças ocorridas com a passagem da mão de obra no trabalho. Era uma fazenda modelo na utilização de tecnologias avançadas, tornando-a a maior produtora do grão (cafe) no estado de São Paulo, local ainda importante pelos personagens que ali viveram e que por ali passaram É essencial sua preservação nesses 250 anos!
E a casa principal da Estação Barão Geraldo, por ser o local onde em 1908 surgiu a terceira estação da Companhia Carril Agrícola Funilense e onde, depois da casa ser construída, acabou induzindo a formação da Vila que recebeu o nome dela: “Barão Geraldo”. Em 1926 a estação era conhecida em todo o Mapa Ferroviário do Estado de São Paulo. Precisamos portanto , dessa sensibilidade do CONDEPACC e quem sabe ate do CONDEPHAAT em preservar esses patrimônios. ” – declarou Moises.
(AB) da redação