Dando continuidade à agenda de encontros com a comunidade de Barão Geraldo, aconteceu na última terça-feira, 31, a segunda reunião com moradores e representantes de associações de bairro do Distrito. O objetivo foi compartilhar informações sobre o projeto dos corredores ecológicos na Fazenda Argentina e discutir alguns aspectos técnicos e conceituais da proposta de legislação específica para a região do Polo II CIATEC/Unicamp que está sendo proposta pela Prefeitura de Campinas e que afeta a área do HIDS. “Temos a melhor disposição para continuar esse diálogo que é de mão-dupla, serve para levarmos informação de caráter técnico, mas também para ouvir as demandas da comunidade”, disse o professor Mariano Laplane, que coordena o HIDS Unicamp.
No final de 2022, a Secretaria de Planejamento e Urbanismo iniciou apresentações da minuta de Projeto de Lei Complementar (PLC) que trata da modernização das regras de parcelamento, uso e ocupação do solo para do Polo Internacional de Desenvolvimento Sustentável (PIDS) onde o HIDS está inserido. Para ampliar a participação social nas discussões sobre o projeto de lei e atendendo ao pedido de moradores de Barão Geraldo, a Prefeitura adiou uma audiência pública originalmente agendada para o dia 24 de janeiro e vai iniciar um processo participativo que deve seguir até setembro. Laplane destacou ainda as diferenças entre os encontros com a comunidade organizados pela equipe do HIDS Unicamp e o processo participativo. “Essas reuniões com a comunidade que organizamos são um espaço importante para a construção de convergências e eventualmente até de identificação de divergências, mas é importante lembrar que aqui não é um lugar de decisão. Isso só vai acontecer no processo participativo com a Prefeitura. Nosso papel é contribuir com um processo participativo eficaz”, afirmou.
“O HIDS é um projeto estratégico para a Universidade. É fundamental mostrar para a comunidade como a Unicamp se enxerga no HIDS”, complementou Laplane. E como seria essa universidade? Sem bordas ou muros e, portanto, mais permeável e integrada ao seu entorno. “Vemos a revisão da Lei de parcelamento do solo e a ocupação da Fazenda Argentina como uma oportunidade de quebrar as bordas da universidade, com um desenho de quadras e quarteirões que estabeleça uma continuidade com a cidade, permitindo colaborações e trocas permanentes com a sociedade”, explicou Gabriela Celani, que coordena o projeto físico-espacial do HIDS.
A proposta da Prefeitura para o PIDS estabelece zonas de centralidade que teriam uso misto, com habitação, comércio e serviços ao longo de grandes eixos em que futuramente haverá linhas de ônibus ou outros meios de transporte público. Espaços destinados à pesquisa, laboratórios e empresas de base tecnológica ficariam nas chamadas Zonas de Atividade Econômica (ZAE), mais afastadas desses grandes eixos de uso misto. “A lógica por trás desse tipo de ocupação do território é estimular o uso de transporte público em detrimento do carro, com um adensamento que permita ter ciclovias, calçadas sombreadas, largas, um espaço em que as pessoas moram e trabalham no mesmo lugar, podendo prescindir do automóvel”, pontuou Celani que também dirige o Centro de Estudos sobre Urbanização para o Conhecimento e a Inovação (Ceuci).
Corredores ecológicos
Ainda segundo Celani, uma universidade mais permeável deve ter várias entradas, o que, no caso da Unicamp, impõe o desafio de respeitar os corredores ecológicos, projeto já em andamento na Fazenda Argentina. “Temos feito estudos para identificar pontos de acesso de modo a não haver perturbações da fauna e ao mesmo tempo viabilizar a criação de um ambiente voltado para a produção de conhecimento científico, algo que extrapola as necessidades da cidade, mas é também um projeto de nação”, destacou a professora.
Os corredores ecológicos da Unicamp vão conectar as áreas de preservação e polígonos de compensação do campus Zeferino Vaz e Fazenda Argentina entre si e entre os fragmentos de vegetação da área externa à universidade. Estão previstos a construção de passadores de fauna e o plantio e manutenção de vegetação nos corredores ecológicos, bem como seu cercamento e sinalização. De acordo com Thalita Dalbelo, que coordena o projeto, a previsão é finalizar a construção de 217 mil m² de corredores ecológicos, 92 metros passadores de fauna e 6.500 metros de cercamentos até 2027.
“Desde de que corretamente implantados, os corredores vão permitir a sobrevivência dos animais em curto, médio e longo prazos. Também vão viabilizar que indivíduos da mesma espécie, e que estão distantes em fragmentos, possam se comunicar e realizar trocas gênicas”, explicou Paulo de Tarso, da Divisão do Meio Ambiente da Unicamp. Uma população de animais restrita a uma área, sem comunicação com outros indivíduos, tende a entrar em declínio geneticamente. “A melhoria das condições de sobrevivência não se aplica somente aos animais, mas também às espécies vegetais porque animais dispersores de sementes podem percorrer áreas maiores, gerando o enriquecimento dos fragmentos que vão compor os corredores”, pontuou. Entre os benefícios do projeto ele lembrou ainda da redução dos atropelamentos de animais nos cruzamentos entre passagens de fauna e o sistema viário e da recuperação dos recursos hídricos daquela área.
Embora o projeto se aplique à área da Unicamp, a lógica dos corredores é que eles sejam continuados em outros territórios contíguos ao campus, envolvendo proprietários e a comunidade. “Daí o interesse no zoneamento de toda essa área de modo a consolidar essa lógica”, disse Henrique Sá Earp, assessor docente na Coordenadoria de Sustentabilidade (CSus) da Unicamp, que hospeda o projeto de corredores ecológicos.
Adensamento
O adensamento populacional e o agravamento dos problemas no trânsito, por conta da expansão do sistema viário, além da manutenção dos corredores ecológicos e nascentes são alguns dos temas que preocupam os moradores de Barão Geraldo e que devem ser levados para as reuniões que vão acontecer no âmbito do processo participativo. “É muito importante que a Unicamp esteja aberta, enquanto instituição, a esse processo participativo, que envolve uma discussão técnica e também política sobre o futuro de Barão Geraldo e para toda essa área”, disse Wagner Romão, morador de Barão Geraldo e também professor da Unicamp. “Teremos uma oportunidade de gerar um consenso para incentivar um tipo de ocupação ambientalmente correta e inovadora desses espaços”, complementou. Um dos encaminhamentos do encontro foi nomear dois representantes dos moradores de Barão Geraldo – a estudante Gabriela de pós-graduação da Unicamp, Gabriela Zopolato, e a advogada Ernestina Oliveira – para estabelecer um canal de comunicação mais ágil com a o HIDS Unicamp e com a CSUS.
Mariano Laplane (coordenador geral do H.I.D.S.) destacou que a instalação do processo participativo por parte da Prefeitura agrega um tempo importante para mais reuniões e discussões. Ele lembrou que desde o início do projeto do HIDS, a Universidade tem mantido diálogo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, com a Secretaria de Planejamento e Urbanismo e com a Secretaria do Verde. “Sendo assim, a Unicamp participará institucionalmente do processo participativo. Não poderia ser de outro jeito. É um diálogo que já estamos fazendo e que queremos continuar em várias frentes: no processo participativo, com a comunidade e, claro, com a comunidade da Unicamp”, enfatizou. “Aqui na Universidade já temos algumas propostas sobre qual a melhor ocupação para a Fazenda Argentina. Temos feito algumas conversas sobre isso, mas é algo que queremos aprofundar a partir deste ano, de modo sistemático, em todas as instâncias. Mesmo depois da aprovação da Lei, a construção do HIDS é um projeto de longo prazo, de pelo menos duas décadas, temos tempo para implementar boas ideias”, finalizou.