Nesses 70 anos de Barão. Vamos esquecer de como era e foi construído esse local?

Por Warney Smith Silva

Como muitos de nós ja sabemos, nesse 30 de dezembro de 2023, Barão Geraldo completa 70 anos de quando se tornou distrito por Lei estadual (Lei nº 2.456) definida na Assembleia e pelo Governador. Mas após a aprovação do PIDS e HIDS, (e das atuais leis de zoneamento que permitem a construção de prédios de até 12 andares em todas as áreas rurais de Barão, também devido ao início da duplicação da rodovia Zeferino Vaz (o tapetão para Paulínia) e do início das construções do novo Alphaville D. Pedro que vão mudar totalmente o que sempre foi Barão. E também devido às recentes reportagens sobre os 70 anos, onde ficou claro o crescente desprezo e tentativa de esquecimento da Estação de trem que deu origem a Barão.

Mas esse desprezo não é apenas das maiores instituições da região , como também pelo desprezo de sua própria população de origem mais antiga que nunca reivindicou coletivamente a preservação e o respeito à sua História local integrada à História de Campinas. Novamente, as reportagens da TV Câmara, Cidade ON e Hora Campinas atribuem apenas o nome do local e do distrito à uma ” homenagem” que não existiu ao Barão pulando diretamente para a criação da Unicamp e CNPEM,

Mas como sabemos, a História do distrito guarda belas e ricas histórias e tradições locais como muitos municípios do país possuem, além da possibilidade de passeios maravilhosos.

Trata-se, em primeiro lugar do fato documentado (e inquestionável) de que Barão Geraldo surgiu após a divisão da pequena fazenda do leiteiro e lenheiro Plínio Aveniente em vários sítios a partir de 1926 (ano do primeiro sítio vendido à Luis Vicentin) exatamente no mesmo ano em que a Estrada de Ferro Sorocabana inaugurou o prédio da Estação Barão Geraldo em 11 de setembro de 1926 e que existe até hoje e que precisa ser preservado. A vila – construída entre os prédios da Capela de Santa Isabel e da Estação, tomou o nome da Estação (como é comum na absoluta maioria das cidades e vilas de São Paulo) e que se tornou sua principal referência. E por isso, ficou conhecida não apenas em Campinas mas em todo o Estado (principalmente no nível governamental e jurídico) e tornou-se uma referencia para a Malha ferroviária paulista.

O segundo fato comprovado é que antes de 1920 não existia uma vila ou qualquer pedaço de terreno público conhecida por “Barão Geraldo”. Esse nome foi dado à chave (uma estação sem prédio) da antiga Funilense em 12 de abril de 1908 no mesmo dia em que a estrada de ferro foi re-inaugurada partindo do Mercadão de Campinas, que na época era sua estação inicial. Em 1910, a Fazenda Santa Genebra construiu um depósito ao lado da estação ainda sem prédio e contratou o italiano Plinio Aveniente para administra-lo. (atual sede da editora Autores Associados, um prédio tombado ao lado do Terminal). Plinio montou sua venda no prédio e 2 anos depois comprou (recebeu em troca de dívidas da Rio das Pedras) 22 alqueires que ocupam todo o atual centro de Barão.

foto de Eugenio e Vitorino Martins (entre 1960 1962) Onde está a Igreja é o atual Santander Já o trem passava pelo atual Terminal, pela praça central (em frente ao Bco do Brasil) e prosseguia pelas praças até a chamada “Praça do Coco” e depois virava à esquerda pela atual rua José Martins (Objetivo), passava pela Agrofloresta, até a praça da lagoa da Vila Santa Isabel onde entrava à direita em direção à Betel

SURGIMENTO DO DISTRITO

Outra comprovação também documentada é que, a partir da instalação dos primeiros loteamentos (nos sítios de Luis Vicentin, Augustinho Páttaro, Modesto Fernandes e Carlos Diniz Leitão após 1947) e da primeira iluminação pública em 1949 (conquistada por luta de Hélio Leonardi e um grupo), os moradores passaram a querer o “progresso” da vila e a vinda de melhorias urbanas. Principalmente as relacionadas aos transportes, saúde e educação. Foi isso que motivou Guido Camargo Penteado Sobrinho se candidatar e se tornar vereador para lutar pelo “progresso” de Barão Geraldo.

Tanto em entrevista gravada em 1995, como a partir de pesquisas realizadas no Arquivo da Câmara, descobrimos os fatos de que Guido Camargo declarou na Câmara – em sua 1ª seção de 1952 – que iria lutar pela “elevação” de Barão a distrito. Pertencente ao antigo partido liberal UDN, Guido sabia da chamada “Lei Quinquenal” de 1948 em que o Governo do Estado solicitou aos Municípios que quisessem fazer mudanças em seus mapas e fronteiras entre 1954 e 1958. Isso incluia basicamente a criação de distritos e novos municípios e de mudanças de bairros e parcelas de territórios de um município para outro.

A proposta de se tornar distrito (defendida por Hélio e pelo vereador Guido Camargo Penteado Sobrinho e um grupo de cerca de 20 moradores) não era consensual em Barão. Houve disputa em Campinas! Durante todo o ano de 1953 um grupo de proprietários – liderado pelo alemão Max Wünsche (ex taxidermista do Bosque dos Jequitibás e produtor de Orquídeas em Barão) – era contra que Barão se tornasse distrito , porque os sitiantes teriam que começar a pagar IPTU e várias outras taxas, tarifas e processos urbanos , que até então não eram cobradas em Barão e Paulínia (e outros atuais municípios que eram rurais na época) por serem rurais e ainda estavam em processo de mapeamento pelas prefeituras e pelo Estado. Por fim , em junho de 1953, a Câmara de Campinas votou e aprovou uma nota concordando e defendendo que Barão Geraldo se tornasse distrito. A solicitação do vereador Guido com a nota da Câmara foi votada e aprovada na Assembleia do Estado de São Paulo em outubro de 1953. E assim, o governador Lucas Garcêz decidiu marcar a audiência para sancionar a lei 2.456 que criava 66 municípios e 26 distritos no Estado de Sâo Paulo em , em 30/12/1953.

Entre os Distritos criados por essa Lei, nesse mesmo dia, estavam Hortolândia (Estação de Jacuba), Campo Limpo (estação), Louveira, Braz Cubas (estação em Mogi das Cruzes), Taboão da Serra, Aguas de Lindóia (a partir da estação de Lindoia), Capela do Alto, e vários outros … Além dos Municipios de Sumaré, Valinhos, Jaguariuna, Ferraz de Vasconcelos, Igaratá, Mauá, Ribeirão Pires além de outros 60 municipios. (TODOS ORIGINADOS DE ESTAÇÕES DE TREM). E no arquivo da Câmara mesmo e na Biblioteca Ernesto Zink, encontrei os nomes de Guido e Hélio Leonardi , do ferroviário Joaquim Prado e do comerciante Nicolau Pacci no meio do grupo de pessoas que lutavam para que Sumaré, Valinhos e Jaguariuna se tornassem Municípios.

PUBLICAÇÃO DO DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DE 30.12.1953

A criação do distrito foi muito mal vista nos primeiros anos e o vereador Guido nem conseguiu se reeleger. Entretanto, a forte melhoria da qualidade de vida nos anos posteriores ( com calçamento, iluminação, transporte, posto de saúde, escolas etc nos anos 1950 e 1960, ainda antes da chegada da Unicamp) foi mudando a opinião e hoje a maioria passou a considerar positiva a criação do distrito. Pois consideram que valorizou muito as terras e aumentou muito as rendas de quem morava em Barão.

O PORQUE DA NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO HISTÓRICA DE BARÃO

Entretanto, após a chegada da Unicamp (final dos anos 1960) também foi a criação e início da construção e venda dos loteamentos Cidade Universitária em antigas terras da Fazenda Rio das Pedras (que nunca foram do Barão Geraldo. Importante ressaltar isso pois ainda existem tais “fake news” sendo repetidas por sites e pessoas. Cerca de 70% do atual território do distrito NUNCA pertenceram ao Barão Geraldo ! Nem mesmo o “Terras do Barão” que tentou se aproveitar dessa lenda). E o crescimento constante de loteamentos ao longo dos anos – sempre prometendo uma vida junto à “Natureza”, à muito verde , e a um pacato clima rural foi rapidamente desaparecendo.

Junto com a Unicamp, vieram centenas de cientistas de renome internacional, brasileiros e estrangeiros como: Cesar Lattes, André Tosello, Sérgio Porto, Gleb Wataghin, Paulo Freire, Marcelo Damy, José Ellis Ripper, João Manuel Cardoso de Mello, Fausto Castilho, Rogério Cerqueira Leite, Giuseppe Cilento, Benito Juarez, José Serra, Maurício Knobel, Maria da Conceição Tavares, José Aristodemo Pinotti, Robert Slenes, José Roberto do Amaral Lapa, e entre eles também vários biólogos e ambientalistas como Hermógenes Leitão FIlho, Mohamed Habib, Renato Guimarães e diversos outros. Esses cientistas trouxeram outra cultura, outras concepções e a certeza questionadora do modelo de progresso industrial vigente no mundo, que já eram tidas como inquestionáveis no nível científico internacional da obrigatoriedade da preservação ambiental local, além do fato de que praticamente todas as maiores universidades investiam nisso em seus Campus.

Essa concepção e “nova ordem internacional” aliando urgência da sustentabilidade ambiental com o desenvolvimento tecnológico impôs cada vez mais esse modelo não só a Barão Geraldo, mas no País e em todo mundo. Junta-se a isso o acelerado crescimento de uma “esquerda democrática” (via voto) a partir das CEB´s (Comunidades Eclesiais de Base) e dos Sindicatos às teorias do CEPAL de “Independência econômica da América Latina”.

Nenhum desses novos pesquisadores tiveram a mínima preocupação em levantar, estudar e preservar a Historia de Barão Geraldo. Essas concepções internacionais tornaram-se praticamente as únicas não apenas no ambiente em torno da Unicamp, como também na mídia de Campinas de São Paulo e do País, nas outras faculdades, nas escolas, igrejas, entidades como OAB, etc. Rubens Alves, Carlos Rodrigues Brandão, Paulo Renato Costa Souza, Carlos Vogt, Bob Slenes, por exemplo, nem pensaram em fazer qualquer esforço em conhecer a historia local. (Embora estudassem inúmeras histórias e lendas e patrimônios de diversos pequenos locais do pais e do exterior.)

Mas como sabemos, a História do distrito guarda belas e ricas histórias e tradições locais assim como muitos municípios do país possuem (e vivem disso), além da possibilidade de passeios maravilhosos. Além das DEZENAS DE LENDAS e histórias ” maravilhosas” (fantásticas) que se contavam pela fazenda (e até do início da Universidade) e vários mitos que se contavam, muitas belas historias – documentada e/ou memorializada ou mesmo que mitificadas (como a do Barão, por exemplo) de centenas de pessoas entrelaçadas à história do local Barão vem se perdendo e desaparecendo cada vez mais e aos poucos. Assim como, diversos caminhos e trajetos locais antigos e mitificados como a “Estrada de Bambu”, o “Capão do Boi”, a “rua do Fubá”, a “estrada do Xadrez”, os vários caminhos e suas capelas de estrada, o caminho da Onça, o caminho do Guará, uma rua interna e colônias “assombradas” da Fazenda Rio das Pedras, o “Parque Linear”, o riacho e Lagoa da Palmeirinha, o “Caminho da Rainha” ( trajeto da Rainha Elizabeth II em 1969), a Senzala e a Mata do Quilombo, a antiga Colônia japonesa Tozan , os antigos “cemitério de escravos”, o “morro do batuque”, os antigos caminhos da Fazenda Argentina, a “titia” holandesa da Vila Holandia, a fazenda da Rhodia e suas diversas colônias, os bairros do Curiango, Goiabal, Morro Azul, Tijuco Telhas, Montagner, a biquinha de Santa Isabel, etc Todas em processo de esquecimento e desaparecimento e inumeras outras que desconhecemos, que não se registrou que já perdemos… Todos esses patrimônios renderiam não só diversos roteiros maravilhosos e deliciosos E rentáveis (não apenas para quem os explorassem), como também para várias empresas, comerciantes e entidades locais, (pousadas, hotéis, bares, restaurantes, comunidades terapêuticas, transportes, escolas, teatros, galerias, feirinhas, igrejas, lojas, etc.) E até Prefeitura, Unicamp e Puccamp certamente muito se beneficiariam disso. Falta-nos rodas de viola, conversas ao pé da fogueira, passeios de cavalo e a pé dentro das fazendas, danças , agroflorestas, e SOBRETUDO RESPEITO por esse rico patrimônio Material e Imaterial que vem sendo simplesmente jogado fora.

A nosso ver, todos os meses de Dezembro deveria haver uma apresentação de banda, de SInfônica, com passeios de trenzinhos ( já que Barão Geraldo surgiu e foi criada para ser uma vila em torno da Estação que lhe deu o nome) e distribuição de bolo em homenagem a sua criação. Seja por Subprefeitura, Prefeitura, secretarias, empresários locais (Dificil entender porque não existe mais iniciativa nesse sentido….)

PARABÉNS BARÃO!!!

Que sobreviva à crescente metropolização niveladora cada vez normal e comum.

30 de dezembro de 1953 – 70 anos

Warney Smith Silva é Historiador pela USP pesquisador da História de Barão e autor do livro “Barão Geraldo a luta pela autonomia” (1910-1960) editora Pontes (de Campinas)

Festa de aniversário de Barão 40 anos 1993 (ao lado do terminal) promovido pela Subprefeitura e comandada por Donizeti Gomes
AEROMAPA DE BARÃO GERALDO DE 1953 – COLEÇÃO DIDC SEPLAN – P.M.C.
  • Redação

    O Jornal de Barão e Região foi fundado em janeiro de 1992 em papel E em 13 de maio de 2015 somente on line

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