Nos últimos dois anos, diante da pandemia, os governos tiveram que tomar uma série de decisões e medidas de enfrentamento a Covid.
Não busco nesse texto questionar as decisões tomadas, mas o que elas representaram para a infância das crianças e suas consequências.
Como Coordenador do Plano da Primeira Infância Campineira tenho acompanhado os impactos da pandemia na infância. Reunindo dados, lendo relatórios e acompanhando o dia a dia das crianças tive a real noção do quão alarmante a é situação, em todos os aspectos.
São dados cruéis e que devemos usar para construir políticas públicas visando modificar essa situação.
Na administração municipal temos dado total atenção ao tema, articulando com as demais secretarias ações coordenadas e focadas a reversão esse cenário.
Incontroverso e inquestionável é que as escolas são os principais instrumentos que temos para reverter o quadro.
Inegável o quanto as crianças perderam com a suspensão das aulas – reforço aqui que não estou fazendo juízo de valor das decisões tomadas, mas apontando as consequências causadas e que vão exigir esforços e uma estrutura complexa para minimizar o que foi perdido.
Apesar de todos os esforços, muitas escolas não voltaram ao normal, agravando ainda mais a perda de aprendizado e os danos do isolamento social. Toda a rotina e expectativas foram alteradas, desde o lanche com os amiguinhos, os passeios até a interação com professores. O déficit de aprendizagem atingiu a todos, entretanto foi maior aos alunos negros e alunos de escolas com altas taxas de pobreza. Olhando esse cenário fica evidente que não é assim que as crianças crescem! E não é essa lembrança de infância que queremos para elas!
A escola tem uma função estratégica para reverter esse quadro, pois representa um lugar seguro, confortável, confiável, acolhedor e de escuta. O lugar que se aprende; que se brinca e onde há interação social. Infelizmente não vivenciamos isso há quase 2 anos!
Por isso muitas crianças e estão passando por problemas psicológicos, agravados pelo isolamento abrupto da pandemia. Essas consequências são tão preocupantes que até em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, houve por parte de organizações pediátricas o reconhecimento da necessidade de um estado de emergência na saúde mental infantil. Os relatos são de “aumento dramático nas visitas ao departamento de emergência para todas as emergências de saúde mental”. São crianças com síndrome do pânico, crise de ansiedade, dependência de telas, tentativas de suicídio, etc.
E, quando tudo parecia encaminhado, a variante Omicron aparece para atrapalhar a vida das crianças novamente. Sim, é um momento que exige atenção, serenidade e cuidado, principalmente porque as crianças são as mais vulneráveis ao vírus, diante da não vacinação.
Entretanto, apesar de toda essa conjuntura (re)criada pela Omicron e H3n2 percebo que a primeira reação dos pais e das famílias é pela estabilidade e continuidade da agenda escolar. A vontade dessas pessoas é que volta as aulas não sejam adiadas. É um clamor!
As escolhas são difíceis, mas se nas nossas últimas decisões a premissa era de que prejudicar crianças era um efeito colateral inevitável do Covid-19, hoje acredito que já temos condições de assumir uma política diferente.
Em 2020 a ameaça era urgente e desconhecida, toda a sociedade fechou para retardar a propagação de um vírus mortal e misterioso.
Mas, passados quase dois anos, aprendemos mais sobre o Covid e temos a exata noção do sofrimento das crianças com as restrições da pandemia.
Os dados agora sugerem que muitas mudanças nas rotinas escolares são de valor questionável no controle da propagação do vírus e também, que o fechamento de escolas não reduz casos de Covid.
É consenso mundial que as escolas devem ser a primeira a abrir e a última a fechar, isso caso houvesse a necessidade de um lockdown.
Thiago Ferrari é Coordenador do programa “Primeira Infância Campineira” na Secretaria de Educação