Secretaria de Cultura aceita incluir versão baronense da Lenda em 2022 mas mantém programação

A Secretaria de Cultura decidiu incluir a versão baronense na divulgação da Lenda do Boi Falô na 26ª edição da festa que será realizada nesta sexta, 15/4 junto da Feira de Artes e Cultura de Barão Geraldo. Entretanto, toda a programação cultural despreza a versão baronense e enaltecerá o trabalho do artista Ulisses Junior, com apresentações feitas por artistas negros de Campinas (assim como é a Lavagem da escadaria da Matriz e a do Elesbão) encenando e contando a versão do “escravo” Toninho sofrendo castigos do Barão, como a secretaria contava anteriormente. A realização da festa é da Secretaria de Cultura e Turismo de Campinas em parceria com a Subprefeitura, a Feira de Barão Geraldo e sua Associação dos Artesãos e Expositores . A decoração da festa foi realizada pelo grupo EntreFios e Memórias, do Coletivo Casarão.

Michele Dainese, uma das coordenadoras da Feira de Arte e Cultura de Barão e diretora da Associação dos Expositores disse que essa parceria da Feira com a Prefeitura amplia nossa participação na cultura de Barão e a percepção da Feira, “Asssim a gente pode ser mais vistos em Barão, agregar mais cultura à Feira além de agregar mais a nossa diversidade à Festa do Boi, com artesanato , com alimentação, com outras opções . Acredito que essa parceria é bem legal pra amos os lados” – disse Michele.

Programação da Festa

Essa será a 26ª festa e que começa às 10h, na Praça do Côco com a apresentação do artista Ulisses Junior, que escreveu um livro contando a versão de Toninho e o Barão e que teve o apoio da Prefeitura.

Depois dele, haverá um espetáculo teatral com o Grupo Camaleoa: “A Lenda do Boi Falô nas Terras do Barão”. O Grupo A Camaleoa Produções, em parceria com o projeto de mentoria artística da Tfilms, apresentará duas sessões da peça de teatro de cordel escrita no ano de 2000 pelo teatrólogo Ton Crivelaro para o Ministério da Cultura. O projeto tem por objetivo apresentar a única lenda regional campineira para os outros bois do Brasil, por isso foi escrita e montada com sotaque nordestino. No elenco, só mulheres, com coordenação da atriz Tânia Guinatti.

Uma hora depois às 11:30 havera a apresentação da “Congada Rosário” das Caixeiras das Nascentes (um dos grupos das Caixeirosas).

Ao meio dia, haverá a “Benção do Macarrão” pelo Monsenhor Roberto que será servido a todos, porém de forma diferente das festas anteriores.

Durante a refeição novamente volta Ulisses Junior a contar sua versão da lenda oficializada pela prefeitura , seguida do teatro do grupo Camaleoa – “A Lenda do Boi Falô nas Terras do Barão“.

Ulisses Junior se apresenta novamente depois disso e às 14:30h teremos a apresentação do espetáculo “Dançando as Raízes Afro Brasileiras” com o Grupo Savuru de Campinas.

Segundo a secretaria da Cultura, a Festa do Boi Falô envolve muita gente do distrito para sua realização, entre escolas, artistas, moradores mais velhos e aqueles que estão há pouco tempo por aqui.

Festa do Boi não é a maior de Barão Geraldo

Ao contrario do divulgado, a festa não é a maior celebração popular do distrito. A maior e mais tradicional de Barão, com mais de 100 anos é a Festa de Santa Isabel – a padroeira de Barão – e que é realizada todos os finais de semana de junho e início de julho. E que também faz parte do Calendário Oficial de Campinas assim como a Festa do Boi Falô

Sobre a lenda, várias versões

Por se tratar de uma lenda, há várias versões do Boi Falô e são contadas de diferentes maneiras. Muitos moradores de Barão, através da Comissão Pró-Memória de Barão Geraldo, defendem que a versão mais antiga e tradicional de Barão não continha nem a figura do escravo Toninho nem a do Barão Geraldo como era falado no Cemitério de Campinas. Segundo a Comissão, a lenda tradicional conta que o episódio ocorreu no Capão do Boi – que era um pequeno bosque na entrada de Barão Geraldo, que foi derrubado para a construção, por volta de 1974, da Avenida Romeu Tórtima, no passado, conhecida como Avenida 1. Nessa versão tradicional de Barão é: “Numa sexta-feira da Paixão, um capataz da fazenda Santa Genebra pediu a um caboclo, escravo ou escravizado (cada um fala de um jeito) que fosse buscar uns bois que ficaram deitados no Capão do Boi. O escravo ou empregado foi até o Capão do Boi (em uma versão era um adolescente que levou o cachorro junto) com uma vara e lá chegando começou a tocar os bois. Com a insistência, um dos bois falou “Hoje não é dia de trabalhar! Hoje é dia de Nosso Sinhô Jesus Cristo!”. O rapaz, assustadíssimo, correu de volta para contar o fato ao capataz que não acreditou. Mas que, depois de brigar com ele, foi junto (mas a cavalo) até o Capão do Boi e mandou o rapaz tocar o boi. Ao ser tocado, o boi novamente disse: “Hoje não é dia de trabalhar! Hoje é dia de Nosso Sinhô Jesus Cristo!”. Assustados, o capataz e o rapaz retornaram para a fazenda e o capataz decidiu ir para sua casa onde não saiu mais naquele dia.”

A versão com Toninho e o Barão

Como sabemos, a festa foi criada por Guilherme Antoniolli e Atílio Vicentin em 1988 para aproveitar o centenário da Abolição, já que a lenda do Boi Falô também tem uma versão bem mais conhecida em Campinas (graças à Prefeitura e a mídia) e centralizada ao longo dos anos na figura do escravizado Toninho. Segundo essa versão Toninho (que está enterrado no Cemitério) foi “forçado” a trabalhar pelo capataz na sexta-feira santa de 1888. Toninho obedeceu e, chegando ao “pasto” para “atrelar” o boi a um carro de boi, este disse: “Toninho, hoje não é dia de trabalhar, hoje é dia de se guardar“. O escravizado então correu para a sede da fazenda gritando: “o boi falô, o boi falô!” e contou o que havia acontecido e, “naquele dia, ninguém trabalhou. O capataz, que era homem descrente, virou rezador e Toninho virou pessoa de confiança do Barão Geraldo de Rezende, trabalhando dentro da casa até sua morte, quando foi enterrado ao lado do Barão por seus serviços prestados à família. No dia de Finados, o túmulo de Toninho é um dos mais visitados na cidade“. Conta a versão oficializada pela prefeitura.

Foi essa versão que foi tema do artista Ulisses Junior em seu livro que foi “premiado” e apoiado pela Prefeitura e será apresentado na programação cultural da Festa de Artes de Barão.

A Secretária de Cultura e Turismo de Campinas, Alessandra Caprioli disse que decidiu divulgar as duas versões para atender a demanda dos baronenses e por achar importante manter a diversidade: “Entendo que existe sim muita divergências na contação da história mas procuramos incluir a versão apresentada por vocês. Deixando claro que verifiquei e a também existem vertentes inclusive na bibliografia infantil que contam de outra maneira Conforme solicitado pedi que a versão fosse incluída justamente identificando que por ser uma lenda existem formas de contá-la que a própria comunidade vem fazendo relatos” – delcarou

Jornal de Barão está demonstrando a história recente da Lenda

Desde a semana passada o Jornal de Barão vem publicando as mais antigas reportagens e documentos que registraram a Lenda do Boi Falô, desconhecida pela Prefeitura e pela mídia de Campinas pelo menos ate 1973! O principal que se notam nessas versões registradas é que elas não tinham uma data de ocorrência (incluída na primeira festa em 1988), nem nenhum personagem com nome, mas na maioria dos casos , citam que ocorreu no Capão do Boi local que realmente existiu e que a Comissão Pró Memoria de Barão quer tombar como patrimônio histórico de Barão. Consideramos absurdo que o estudo realizado pelos historiadores de Barão não seja levado em consideração.

(AB)

Ulisses Junior irá apresentar o seu livro e praticamente ser o mestre de cerimônias do evento
  • Redação

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