por Wagner Romão
Se em décadas anteriores era usual nos perguntarmos “para onde a cidade vai crescer?”, nos dias atuais a pergunta urgente é outra: “como conter o crescimento da cidade?”
A crise climática exige que mudemos radicalmente a maneira de estarmos no planeta. Se no século passado o que ditou o desenvolvimento das nações foi a Industrialização, a derrubada das florestas, o êxodo rural e o surgimento de grandes cidades, hoje esse paradigma precisa ser alterado para podermos preservar nossa vida e das próximas gerações.
A diminuição aguda do ritmo de crescimento da população, mostrado pelo Censo Demográfico 2022, é um forte indicativo de que temos tudo para vencer o desafio da sobrevivência no planeta, racionalizando nossas condições de vida. Num regime de recursos escassos, as famílias cada vez mais tem menos filhos.
Infelizmente não temos conseguido transferir essa visão das famílias para nossa relação com a cidade. Em Campinas, por um lado, a população tende a diminuir, há cerca de 54 mil endereços desocupados na cidade e o centro segue esvaziado. Por outro lado, a sanha do mercado imobiliário por lucro faz com que a cidade cresça espacialmente, mais áreas verdes sejam desmatadas, maiores distâncias tenham que ser percorridas com mais gasto de combustível fóssil.
Pior ainda: o mercado imobiliário financia campanhas eleitorais e mantém seus tentáculos na Prefeitura e na Câmara de Vereadores. O poder econômico e o poder político se retroalimentam e não conseguimos mudar o ultrapassado paradigma de crescimento da cidade que não faz mais sentido.
O Plano Diretor de Campinas, proposto pela Prefeitura e aprovado pela Câmara de Vereadores em 2018, ainda é um Plano de uma cidade do século passado, que não responde às necessidades do século XXI. Foi pensado sob o signo da expansão urbana, e não de sua contenção planejada. Não incorporou a perspectiva da diminuição da população nas próximas décadas. Não percebeu que precisamos cada vez mais preservar áreas verdes para melhorar nossa saúde e nossa qualidade de vida.
Mais grave: depois de cinco anos de vigência do Plano e da Lei Complementar 207 – que formalizou a expansão urbana – mais e mais loteamentos seguem sendo aprovados e executados, alguns deles em áreas de proteção ambiental como no caso do loteamento Saint”Anne em Sousas. Nesse caso, conforme divulgado pela Oscip APAVIVA, ainda com a possibilidade de que haja permissão – ilegal em zonas de manancial – para o fechamento do loteamento com muros, o
que prejudicará a mata ciliar do rio Atibaia, a circulação e reprodução de animais silvestres e
degradará nascentes e cursos d’água, piorando ainda mais a escassez hídrica em Campinas.
Também no PIDS, em Barão Geraldo, nas 12 oficinas que conseguimos viabilizar após
requerimento ao Ministério Público, outro modelo de ocupação do território, com áreas de transição entre o urbano e o rural, o estabelecimento de uma zona de proteção ambiental claramente definida na lei e contra a liberação da construção de prédios de até sete andares na área. Mas, quase nada foi incorporado pela Prefeitura.
No Campo Grande, também a situação é crítica, com loteamentos irregulares invadindo a APA local e sem que a Prefeitura tome providências. Voltarei a esse tema no próximo artigo. Até lá, sigamos na luta!
Muito bom, professor Wagner