Os artistas reunidos na Câmara de Cultura Territorial de Barão Geraldo enviaram um texto em apoio ao Centro Cultural Casarão que fica no bairro Terras de Barão. O artigo lembra o histórico e alguns números de apresentações já realizadas desde 2005 e do episódio com a Associação dos moradores do bairro , dizendo do “perigo de fechamento” e faz um apelo aos poderes públicos de impedir o fechamento do Casarão e ampliação do debate.
A seguir – e conjuntamente – colocamos o texto do Abaixo assinado realizado pelo Coletivo de Gestor do Casarão e uma entrevista com uma das gestoras
Veja a íntegra da carta:
“O Centro Cultural Casarão é uma Casa de Cultura pertencente à população de Campinas, sendo o único equipamento público municipal em Barão Geraldo voltado exclusivamente à Cultura.
Há 17 anos desenvolve uma intensa programação – interrompida presencialmente pela pandemia – de Encontros e festas da Cultura de Tradição, Cultura da Infância, exposições, oficinas e apresentações das mais diversas linguagens artísticas, que são oferecidas sempre na perspectiva de acesso gratuito ao público. No ano de 2019, foram 7.800 pessoas que estiveram no Casarão como público, frequentando essa rica programação. Além das programações abertas ao público, o Casarão acolhe agenda de ensaios de inúmeros grupos e artistas, que precisam de um local para ensaiar e preparar espetáculos de diferentes linguagens.
Além da importância da programação cultural promovida de maneira contínua, a construção desse equipamento cultural possui um imenso valor histórico, e é localizada num terreno amplo, que mistura características urbanas e rurais, em meio a uma vegetação abundante e ladeado por um belo lago.
Atualmente, esse rico patrimônio público corre um risco iminente, por conta de um projeto de fechamento do bairro onde o Casarão está localizado, que prevê restringir de forma extrema seu acesso, além de descaracterizar completamente a sua identidade arquitetônica e paisagística, características que compõem a essência desse Centro Cultural e de convívio.
Esse projeto está sendo proposto pela Associação dos Proprietários do Residencial Terras do Barão e, embora esteja amparado na ideia de um cinturão de segurança, o projeto, na prática, propõe guaritas, cancelas, cercas e controle de entrada. Esse projeto está tramitando na Secretaria de Urbanismo sob o número 2019/11-9952.
O projeto fecha as principais vias de acesso ao Casarão e propõe um cercamento desse espaço cultural. Destacamos que a relação com o público é o que dá sentido à existência de um espaço cultural, e políticas de restrição e constrangimento do acesso do público ao espaço provocam a asfixia de um espaço cultural.
Não podemos permitir que mais essa violência aconteça. A Cultura é arauto do bem viver. Promove a educação para o sensível e a prática da paz. A cidade de Campinas possui uma rica produção cultural, que, infelizmente, é pouco disponibilizada à sua população justamente pela enorme carência de espaços culturais que possam acolher essas produções. O Casarão precisa continuar a ser um local aberto e de todos. E consideramos que um projeto como esse não pode ser analisado apenas pela Secretaria de Urbanismo, e que é preciso um debate mais amplo.“
Abaixo assinado com mais de 10.000 assinaturas pede a não aprovação do projeto
O coletivo de artistas e gestores do Centro Cultural Casarão fizeram um abaixo assinado que conseguiu 10013 assinaturas solicitando a não aprovação pelo DU (Departamento de Urbanismo) do projeto de fechamento do bairro Terras de Barão pela Associação dos Proprietários e Moradores do bairro.
Segundo o texto do abaixo assinado o Centro Cultural Casarão funciona na antiga sede da Fazenda Boa Esperança, construída em meados do século passado (anos 1950) e portanto é anterior e faz parte da área de compensação da criação do loteamento em 2005. Por isso o Casarão pertence à população de Campinas, sendo o único equipamento público municipal em Barão Geraldo voltado exclusivamente à Cultura. “O projeto preocupa porque restringe o acesso do público, o que descaracteriza completamente por ser uma instituição pública e gratuita aberta a qualquer pessoa (e não apenas ao bairro) E isso foi feito em acordo entre a Prefeitura e a Incorporadora que criou o bairro.
Segundo o abaixo assinado, esse fechamento despreza a identidade arquitetônica e paisagística do Casarão de origem de imóvel rural, e além disso nos asfixia como espaço cultural, uma vez que o cerceamento das pessoas faz perder o sentido de estar ali, como espaço cultural. Segundo o coletivo do Casarão, um dos itens de preocupação e fator que motivou a organização do abaixo-assinado é a falta de transparência de informações sobre o projeto por parte da Associação.
Um dos Patrimônios Históricos de Barão
Neusa Aguiar, que faz parte da Conselho Gestor do Casarão, em entrevista ao jornal Hora de Campinas explica que o Casarão era a sede da antiga Fazenda Boa Esperança que era dividida entre Campinas e Paulínia e onde o empreendedor fez cinco condomínios fechados, e em contrapartida fez um loteamento aberto na parte de Campinas onde está o centro cultural. Portanto, trata-se de um imóvel de importância e Patrimônio Histórico da cidade, mas que não tem uma entrada própria fora do bairro e que, com a redução do acesso, o público não terá como chegar ao Casarão.
Porém Neusa diz que não conhece o projeto de cercamento do bairro e se garanta uma entrada para o Casarão. “Nós não tivemos acesso ao processo que tramita na Secretaria de Urbanismo e não fomos consultados pela Associação, o que entendemos que deveria acontecer o quanto antes, uma vez que seremos afetados pelo fechamento”, diz ela, que integra o Coletivo Gestor.
Ela acredita que o Plano Diretor reconhece e prevê a criação do “cinturão de segurança” nos bairros que assim o desejarem , desde que cumprindo todas as regulamentações e normas
“Tudo está sendo feito sem discussão com a Secretaria de Cultura. É uma falta de respeito com a nossa inserção na comunidade.”
Ela destacou ainda que o Casarão é um equipamento público da Secretaria de Cultura. “Temos três funcionários públicos responsáveis pelo espaço. E tem a gestão coletiva e participativa, com artistas e moradores, aprovado no Conselho de Cultura.” As regras que disciplinam a instalação estão definidas na lei complementar nº 208, de 20 de dezembro de 2018, nos artigos de 55 a 58.
OPINIÃO DO JORNAL
Na opinião do Jornal de Barão por ser um Patrimônio Histórico de Barão e Campinas e estar dentro da área verde de compensação ambiental do loteamento Terras de Barão , obrigatoriamente ele deveria ficar de fora do projeto de cercamento do bairro