Trata-se de um local MÍTICO e MÍSTICO onde, conforme conta a lenda , o boi estava deitado e falou ao trabalhador ou escravo e seu capataz. Conforme contaram vários baronenses (como D. Antônia, Antônio Ferrari, seu Humberto, Nicolau e Rosa Pacci e outros), as pessoas tinham medo de passar pelo local. Era um pequeno bosque, local de medo e benzimento. Antigos moradores iam acender velas e fazer orações que ficava próximo ao início da Avenida 1 no condomínio do Triângulo.
O local não existe mais. Mas há praças restantes bem próximas – que eram conhecidas como “praça do Capão do boi” (veja fotos abaixo) A partir dos anos 1970 – com a criação do HC e ampliação do Campus da Unicamp – começou a partição da Fazenda Santa Genebra . Nessa época foi feita a reforma da “entrada” com a construção da praça batizada de San Martin e a construção da avenida 1.
No início dos anos 1980, a Prefeitura derrubou praticamente todas as árvores do Capão do Boi sem avisar ou consultar a população E foi remodelando e ajustando a Cidade Universitária (ainda com mais de 80% sem casas e lotes a venda), praças, ruas e outros equipamentos dos bairros.
Alguns baronenses ficaram bastante revoltados e se juntaram aos ambientalistas que começavam a se mobilizar em Barão Geraldo, assim como no pais, contra empreendimentos sem respeito pela preservação ambiental. Conhecemos e registramos pelo menos duas entrevistas de moradores que protestaram contra a derrubada do “Capão do Boi” Mas deve haver muitas outras e as que não foram registradas.
È provavelmente por isso que o local “Capão do Boi” desapareceu da “lenda do boi falô” registrada como oficial pela Prefeitura de Campinas, com uma narrativa muito diferente da tradicional de Barão. Juntando vários nomes e fatos desconhecidos no local e modificando o sentido original da lenda que se relacionava antes ao desprezo ou perda de respeito do capitalismo ou da modernidade pela agenda ritualística e programação promovida pela igreja católica – que foi praticamente o braço oficial do Estado brasileiro até o inicio do século 20.
Após os anos 1930 o fim da era do café e inicio da 2ª Guerra marcou a mudança para a modernidade e início do apagamento crescente da programação e datas “santas” catolicas (feriados). Esse é o principal motivo do mito do “boi falô ter sido “historicizado”. Primeiro pelos próprios baronenses que, a partir dos anos 1950, passaram a considerar o “causo” do boi falô como uma “mentira” ou desculpa de um trabalhador, caboclo (ou escravo) “preguiçoso” que não queria trabalhar. E a sexta feira da paixão tão importante na História de Campinas também foi sendo esquecida.
Só a partir dos anos 1980 começou o processo de transforma-la em uma espécie de “protesto” contra a escravidão. E como havia uma foto e um tumulo de um único “escravo” com nome associado ao Barão , acabaram por inseri-lo na lenda também. E assim o “capão do boi” – o local onde o boi teria falado – foi esquecido e com ele o sentido original da lenda também. E também o importante significado do local para os antigos baronenses foi esquecido. “Afinal era só mato” como diziam antes…
Uma das praças tem outras historias . Ha cerca de 6 anos uma praça começou a ser cuidada por um morador da Vila Costa e Silva conhecido como “José Pontepretano” que trabalhava na praça tomando conta de carros estacionados e outros serviços. Pontepretano gostava de colecionar e contar histórias inclusive a do “boi falô”. Além de limpar, plantar e cuidar da praça, a encheu de placas com frases e pensamentos positivos e lembranças de sua cadelinha que faleceu. E até montou seu “escritório”. Todos que paravam , ele contava suas historias e a do boi falô.
José faleceu de enfarte no Terminal de Barão em 2018 com grande homenagem da Ponte Preta.
(texto e pesquisa Warney Smith Silva)