Barão Geraldo está novamente dividido entre o “progresso” que pode urbanizar o distrito totalmente (como o Cambuí) e a manutenção de seu clima rural, e correndo o risco de desaparecer em termos de História Local (veja exemplos disso abaixo). Trata-se da discussão do projeto do novo Plano Diretor de Campinas que será votado no próximo semestre.
Moradores de Barão Geraldo realizarão nesse sábado, 10/6, um Ato Publico contra as propostas para o novo Plano Diretor, na Praça 30 de Dezembro, no centro, com a apresentação do grupo de maracatu Maracatucá, do cantor João Arruda e diversos outros artistas. Os organizadores esperam a presença de mais de 1000 pessoas. “Vamos lotar o centro. Vamos dizer não à esse desrespeito e essa insensibilidade da Prefeitura” – disse o arquiteto Manuel Rosa Bueno, um dos que estão organizando o ato.
Segundo Bueno, mais uma vez o que resta da tranquilidade rural de Barão está ameaçada por mais aumento populacional, grande numero de prédios (verticalização) : “A nova proposta de Plano Diretor da Prefeitura liberará conversão de toda zona rural de Campinas em zona urbana. Só no entorno da Unicamp já estão protocolados com pedidos de conversão mais de 26 milhões de metros quadrados – o que no mínimo dobrará a ocupação urbana ao redor da Universidade, sem qualquer planejamento. Isso aqui vai virar um ma r de cimento com o triplo da população e todos os problemas que pode acarretar”
Conforme o ambientalista Mario Cencig , vice presidente do CONDEMA e outro organizador, a proposta do Plano Diretor da prefeitura entra em contradição com ele mesmo, porque tanto alguns especialistas como a Secretaria do Meio Ambiente planejam a ampliação da preservação e do verde e da criação de mais parque lineares e praças, como com a vontade da população de várias partes de Campinas, em especial a população baronense que fez uma opção pela preservação ambiental como princípio como definido no atual Plano Local de Gestão Urbana, criado em 1996. “Todas as pesquisas apontam a tendência a maior espraiamento das cidades nas zonas metropolitanas e ampliação da segregação espacial para o mais pobres. Até agora esse plano só aponta a vontade dos grandes empresários do setor imobiliário que só querem lucrar com suposições e preconceitos sobre Barão Geraldo, em detrimento do que pouco resta de nossa qualidade de vida”
Outra moradora Ernestina Gomes Oliveira diz que o mais nocivo do plano é sua ampliação urbana para as zonas rurais “Essa proposta de macrozoneamento imposta para a cidade abre a possibilidade de acabar e urbanizar tudo o que resta da zona rural de Campinas” Também a historiadora Adriana Koyama diz que o Plano pode destruir o clima pacato de Barão: “Vai fazer com que muita gente saia dos bairros pra ir morar em condomínios, fazendo com que ampliem o grande numero das casas vazias e a insegurança”.
Por outro lado, o novo Plano Diretor, igual ao primeiro, desconhece totalmente e não leva em consideração o desenvolvimento histórico de Barão, como deveria ser, segundo o historiador Warney Smith e pode acabar de vez com a identidade “e o que e conhece por Barão Geraldo”. Em primeiro lugar temos que ter claro que a economia imobiliária em Barão esta em decadência. Milhares de casas e vagas abandonadas e vazias por falta de gente com condições. Por outro lado, a economia da cultura e turismo gastronõmico vem crescendo e se ampliando cada vez mais apontando que a grande saída para investimentos e nesses setores e no lazer. Segundo ele, historicamente Campinas aceitou e incorporou a identidade e o padrão de outros distritos como Sousas e Joaquim Egídio fortalecendo e oferecendo o potencial turístico e ambiental , assim como fortalece e incentiva o padrão industrial e habitacional da Zona Sul de Campo Grande. Porém nunca aceitou nem incorporou a identidade de Barão Geraldo, nunca nunca divulgou e ofereceu como ela é, que deveria ser vista como local de lazer e turismo como Sousas e Joaquim Egidio, porém diferenciado em virtude da Ciência e a Cultura que transformou Barão num polo cientifico e cultural diferenciado. “A impressão que se tem é que Campinas quer fazer Barão Geraldo desaparecer, assim como fez com Aparecidinha que já desapareceu e quase ninguem sabe onde fica.”
Warney diz que a história de Barão Geraldo, que também lutou pra trazer a universidade e se transformar numa tranquila vila de interior está desaparecendo por falta de identidade dos novos moradores e gestores de Campinas e porque o crescimento de Barão desconhece e não respeita o distrito como ele é ao contrário do que ocorre com outros distritos, e por causa dos nomes e referências locais que ja vem fortemente não sendo reconhecidas e desaparecendo: “Assim como em Aparecidinha, também em Barão, já sumiram várias bairros, lagoas, rios, pontos turísticos importantíssimos como o Xadrez, o Capão do Boi, a Vila Ninoca, o Curiango, o Curiango, o Quilombo, as antigas vilas das fazendas, a Vila Flor ta quase desaparecendo, a Etec também, a estrada da antiga Funilense ninguém conhece” Warney diz que no centro de Barão é a mesma coisa: a Estação que tem quase 100 anos e deu origem a Barão, a estrada de Bambu e até a própria casa do Barão estão em risco de desaparecer. Vários bairros já desapareceram como a Vila Ninoca, a vila Luis Vicentin, o Faum Jose Feres, Jd José Martins. Antigos bairros como Guará, Vale, Village, Alto, Terras, Parque das Universidades não mais se reconhecem como parte de Barão Geraldo e cada vez mais Barão esta se tornando apenas o ajuntamento dos bairros centrais (Vila Modesto Fernandes, Santa Genebra, Vila Mokarzel etc) como um único bairro de nome Barão. “Até as Vilas Agostinho Pattaro, Ninoca, Faum e outras já são chamadas todas por “Praça do Coco” que alias nunca teve esse nome. Esta acontecendo aqui o mesmo com o antigo distrito de Santa Cruz que deu origem a Campinas e hoje é so uma pequena parte do Cambuí…. Além disso, Campinas nunca divulgou e ofereceu Barão como polo cultural, turístico e ambiental como faz de Souzas…”
Outro lado: Santoro e imobiliários preveem barateamento e melhorias
Por outro lado o secretário municipal de Planejamento e Gestão, o engenheiro Carlos Alberto Santoro acha o ato totalmente despropositado e nega que o Plano vai acabar com a Zona Rural e liberar a verticalização: “De maneira alguma nossa proposta quer acabar com as áreas rurais, com o meio ambiente e liberar a verticalização em Barão Geraldo! Não somos loucos! Queremos melhorar Barão Geraldo e a qualidade de vida nos bairros, e regulamentar o que já ultrapassou o Plano Local atual. Essa acusação é incabível!”
Segundo Santoro, a equipe da secretaria defende sim uma pequena ampliação do perímetro e da macrozona, mas apenas para áreas residenciais já ocupadas, a ampliação da circulação (uma nova via) para a área de construção da CIATEC (e torno da Telebras) – com uma saída para a Rodovia de Mogi Mirim e o estabelecimento da verticalização em no máximo 4 pavimentos apenas nas grandes vias e entorno da Unicamp. Santoro defende também um adensamento e duplicação da Estrada da Rhodia, e urbanização de áreas “bem longe do centro de Barão“, como o Village, Vale das Garças, da região do Montagner (outro lado da Mata) , inclusive com a criação de ecovilas. Mas também a manutenção da preservação do patrimônio ambiental como as duas Matas Santa genebra, a Fazenda Rio das pedras e o parque linear e a região do Atibaia e Jaguari. “Mas é essencial que essas pessoas contrárias, que estão organizando isso, tenham a consciência de que são uma minoria, de que muita gente também quer morar em Barão e não podem porque o plano diretor esta mais de 30 anos atrasado e bastante fora da realidade. E além disso tais mudanças vão melhorar qualidade de vida e o barateamento dos serviços urbanos” – disse Santoro que também defende a existência de um empreendimento voltado para as classes mais baixas e pede pra lembrar que sua proposta contempla a “outorga onerosa” em que os empresários, para realizar qualquer novo empreendimento, terão de pagar um contrapartida, que será cobrada de acordo com o valor venal do imóvel e que desincentivará grandes empreendimentos.
Já o empresário imobiliário, o corretor Júlio Garcia D´Agostini acha um erro ir contra a verticalização e a ampliação da zona urbana no Plano Diretor que segundo ele ira baratear a vida e os imóveis em Barão; “Campinas paga caro por erros em Planos Diretores ao não ampliar possibilidades e oferecer áreas urbanas para a instalação de indústrias. O último loteamento industrial aqui aprovado foi o Techno Park, em 1998. De lá para cá o pequeno e médio industrial que deseja implantar ou ampliar sua fábrica vai para as cidades vizinhas, levando empregos e tributos.”
D´Agostini explica que: “A receita dos municípios é composta basicamente de IPTU, ISS e ICMS. O ICMS de repasse estadual é um imposto nobre e reflete a saúde financeira do município, enquanto o IPTU e o ISS, impostos municipais, retiram o dinheiro dos cidadãos. Em 2014 o ICMS representou só 40% da receita campineira, enquanto em Sorocaba foi 50% e em São José dos Campos foi 60%. Dá para entender porque pagamos um dos IPTUs e ISSs mais caros do estado e a prefeitura nunca tem recursos? É o prejuízo por manter essas áreas rurais.” – declarou