A Rede São Paulo de Memória e Museologia Social realiza, no dia 26 de novembro, das 14 às 19h, um encontro para discutir as tradições alimentares e as propostas de reinvenção do que o brasileiro leva à mesa. A produção solidária de alimentos orgânicos, o veganismo e a agroecologia estarão em pauta, ao lado da alimentação partilhada nos festejos tradicionais, das antigas receitas mineiras passadas de geração em geração, das pesquisas sobre a culinária do milho do interior paulista e das contribuições dos africanos na alimentação da cidade de São Paulo, nos séculos 18 e 19. O encontro, gratuito e aberto a todos os interessados, será realizado no Centro Cultural Casarão, em Barão Geraldo, reconhecido pelo IPHAN como Casa do Patrimônio, responsável pela preservação e difusão do patrimônio imaterial no município.
A iniciativa surgiu a partir da vinda da pesquisadora Juliana Venturelli a Campinas. Juliana é fundadora da Risoma – Rede Interdisciplinar Sociedades, Memórias e Alimentação, pesquisadora em memória oral e escrita nas receitas culinárias do Sul de Minas e Bahia, doutoranda em Memória Social pela Unirio, professora do Curso de Pós-Graduação em Gastronomia Vegetariana e Vegana da Faculdade Estácio e do curso de Extensão em Jornalismo Gastronômico das Faculdades Integradas Hélio Alonso, no Rio de Janeiro. Além de participar da roda de conversa “Tradições alimentares: produção e usos do conhecimento”, ela irá exibir e discutir o documentário “Prosas culinárias e cadernos de receitas do Sul de Minas”, baseado no seu trabalho.
A Rede SP de Memória e Museologia Social, que articula o encontro, é uma rede colaborativa entre profissionais, estudiosos e comunidades com o objetivo promover a aproximação e a troca de experiências entre agentes e iniciativas culturais de base comunitária que atuam no campo da memória, patrimônio cultural e museologia.
Programação
As atividades do encontro estão organizadas em duas rodas de conversa.
A primeira, dedicada às “tradições alimentares, produção e usos do conhecimento”, traz as contribuições de pesquisadoras que estão mergulhadas no estudo da cultura alimentar do sudeste brasileiro. Além de Juliana Venturelli, que pesquisa a culinária tradicional de Minas nos cadernos de receitas que passam de mãe para filha, a roda conta com Cristina Tedesco, pesquisadora do Instituto Agrônomico, economista e doutora em Turismo, Meio Ambiente e Sociedade, coordenadora do projeto “Roteiro do Milho: mapeamento da gastronomia tradicional do Vale do Paranapanema”, Rafaela Basso, doutora em História que dirige a área de Gestão e Preservação de Documentos e Informação do Arquivo Central da Unicamp e autora do livro “A Cultura Alimentar Paulista: uma civilização do milho? (1650-1750)” e Marli Wunder, artista, fotógrafa e integrante do Coletivo Cultural do Casarão, responsável pela alimentação partilhada nos festejos de cultura popular da instituição.
A segunda roda de conversa põe em discussão a reinvenção da cultura alimentar proposta por movimentos e coletivos que buscam equalizar questões ecológicas, sociais e de saúde. As contribuições para o debate serão levantadas pela dupla de Veganos Periféricos, Leo e Eduardo dos Santos, moradores do Parque Itajaí, região Noroeste de Campinas, Paulo Antonio Scudilio, enfermeiro que coordena a Oficina Agrícola do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, registrado como Museu Vivo junto ao Instituto Brasileiro de Museus, e Gerson Oliveira, defensor da agroecologia e atuante na coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra .
Leonardo e Eduardo dos Santos administram a página “Vegano Periférico” nas redes sociais, com centenas de milhares de seguidores no Instagram. Seu objetivo é desmistificar o veganismo e mostrar que é possível seguir esse estilo de vida com simplicidade e custo acessível a qualquer classe social: “Optamos por essa forma de consumo por vários motivos, mas o principal foi a questão do sofrimento e a exploração animais. Hoje temos uma percepção muito ampla em relação a comida, conseguimos perceber que as pessoas estão totalmente desconectadas daquilo que consomem. A maioria come por puro prazer imediato ou só para matar a fome rapidamente, não se preocupa com o que está ingerindo e com o impacto que essa falta de conexão com a comida causa na vida dos animais, na nossa saúde e no meio ambiente.”
Oficina Agrícola do Serviço de Saúde/ Museu Vivo Cândido Ferreira
A experiência inclusiva da Oficina Agrícola do Serviço de Saúde/ Museu Vivo Cândido Ferreira existe desde 1991, com objetivo terapêutico e de geração de renda para cerca de 50 pessoas atendidas no serviço de saúde mental. Entre as atividades geridas de forma participativa estão a horta orgânica, os projetos paisagísticos, a confecção de cercas e o reflorestamento. “Os primeiros produtos foram hortaliças, como alface, chicória e almeirão. Atualmente, há uma ampla variedade de produtos produzidos de acordo com a estação. Desde o princípio, os alimentos produzidos são orgânicos, certificados desde 1999 pela OPAC (Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade), sendo toda a produção fiscalizada diariamente. A escolha pela produção de alimentos orgânicos foi feita para privilegiar a qualidade dos produtos e ao mesmo tempo não oferecer o risco do uso de agrotóxicos aos oficineiros. O trabalho terapêutico e a assistência proporcionam melhor relacionamento em grupo, desenvolvimento de habilidades e potenciais, trocas interpessoais e sociais, reorganização psíquica, capacitação profissional e pessoal, melhora da autoestima e relações familiares, exercício da cidadania, reconstrução dos vínculos, construção da autonomia, adesão ao tratamento e redução de internações”, destaca Scudilio.
Agroecologia
A agroecologia, tema do Gerson Oliveira, está baseada no reconhecimento do campesinato como guardião das florestas, das sementes, das nascentes, dos rios e da fauna brasileiras. Uma cultura alimentar apoiada na agroecologia implica a produção de alimentos puros, com cooperação e utilização racional dos bens naturais, seja no cuidado com o solo, seja no uso da água ou na preservação de sementes nativas. As experiências mais consolidadas no movimento social estão relacionadas com a produção de hortaliças, arroz e café. O MST é atualmente o maior produtor agroecológico de arroz das Américas, com cerca de 27 mil toneladas por safra, que abastecem a alimentação escolar em cidades de médio e grande porte no país. Quanto ao café, são beneficiadas 6 toneladas por safra, abastecendo mercados interno e externo.
Serviço – Patrimônios na panela: cultura alimentar, tradições e reexistência
26 de novembro de 2019, das 14 às 19h
Centro Cultural Casarão – Rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/no , em Barão Geraldo. Mais informações podem ser obtidas no site https://labdobemviver.wixsite.com/patrimoniosnapanela.
fotos divulgação Aline Motta