por Marco Garcia
Em setembro Campinas comemora mais um aniversário do falecimento do Maestro Carlos Gomes, dedicando a este mês uma série de programações em sua homenagem. É certo que estas comemorações nunca foram à altura da obra e dos feitos deste ilustre campineiro, pois a maioria da cidade não só ignora como pouco participa, mas em 2023 atingimos o ápice do desprezo, pois o seu Monumento Túmulo foi profanado pela segunda vez. Já havia sido violado no ano passado, mas graças a complacência e o desprezo da secretaria de eventos turísticos (antiga Secretaria de Cultura) os larápios vieram este ano terminar o serviço. A continuar esse descaso, talvez no ano que vem não tenhamos sequer a escultura do Maestro.
Sinto uma espécie de “vergonha alheia” por um prefeito que deveria estar preocupado em explicar, sobretudo para ele mesmo, por que a Cultura de sua cidade, que ele se apresentou para cuidar, está tão abandonada, seria ideal que ele refletisse sobre a nomeação de pessoas incompetentes para ocupar o cargo, quando estes não apenas sustentam a deterioração de algo que há anos vem sendo destruído como ainda ignoram a própria incompetência, acreditando fazer o melhor.
Eu acredito que o resultado deste sucateamento é fruto direto deste atual prefeito, mas não apenas ele deve ser apontado como culpado, os anteriores também não deram o menor valor a pasta. Optam por escolher pessoas que não criem problemas e que trabalhem apenas dando a impressão de que algo está sendo feito, quando na verdade nada de sólido está sendo construído. Esta é a razão da Secretaria de Cultura ter se transformado em Secretaria de Eventos Turísticos, onde a mesma secretária cuida da cultura e do turismo – que sabemos, são coisas bem distintas. Cultura pode atrair turistas, é verdade, mas para isso ela precisa existir.
Ora, se o prefeito da cidade é uma pessoa desnutrida culturalmente, isso não justifica condenar toda uma cidade ao destino dele. Se ele pessoalmente deseja ignorar as Artes, que o faça, mas isso não lhe reserva o direito de impedir que outros desejem destino diferente. Há muitos anos venho denunciando este abandono, vejo que o tempo está passando e que, a cada ano a coisa fica pior. Há mais de quarenta anos nada é construído para beneficiar a vida cultural da cidade, pelo contrário. Vivemos da sucata dos equipamentos construídos na década de setenta. A cidade cresceu, se desenvolveu, mas a Cultura continua estagnada, vivendo de eventos, que por melhores que sejam, são apenas eventos.
Há também uma atitude estranha por parte dos artistas da cidade. Todos aparentam ter medo de exigir o que lhes é de direito, correm atrás de migalhas que caem da mesa sem saber que tem direito ao pão inteiro. As autoridades e referências culturais e artísticas da cidade aceitam este cenário porque estão ocupadas a cortejar o poder público por medo de entrar no limbo que o poder impõe aos detratores e críticos.
O que ocorreu com o Monumento Túmulo do Maestro Carlos Gomes vem acontecendo com a maioria dos monumentos da cidade. Existe uma certa complacência por parte da Prefeitura, pois esta alega que nada pode fazer a respeito, quando na verdade é seu dever presar pela memória da cidade e de seus membros ilustres. Campinas está perdendo sua identidade, está perdendo seu rosto.
A desnutrição cultural é bem mais perversa do que costumamos considerar, pois ela atinge a todos: velhos, jovens, ricos e pobres. Sua verdadeira face nem sempre é visível, mas o cheiro é insuportável e seus efeitos se fazem notar em atitudes como racismo, fanatismo e sobretudo na violência.
Marcos Garcia é artista plástico
Fundador do “Movimento Contra a Desnutrição Cultural”